A história da imigração judaica no Rio Grande do Sul, que completou 120 anos em 2024, ganha um novo e bem-vindo registro: o livro Shtetele — Os Judeus do Sul (edição do autor), com fotografias e textos de Felipe Goifman.
O lançamento na capital gaúcha será nesta terça-feira (18), às 18h, na União Israelita Porto Alegrense (Rua Barros Cassal, 750), dentro da programação do Dia da Imigração Judaica no Brasil. Depois, às 19h30min, haverá a exibição do documentário Terras Prometidas: A Herança da Baronesa e do Barão de Hirsch, idealizado por Léo Steinbruch e dirigido por Olindo Estevam. O evento é aberto ao público mediante inscrição prévia via formulário online, que pode ser acessado no perfil @uniaoisraelita.
Quarto livro de uma série sobre imigração judaica para o Brasil que inclui Hakitia — Amazônia Hebraica, Em Busca de Sefarad — De Portugal a Pernambuco e Beit — Sinagogas do Rio, a obra é resultado de diversas viagens pelo Rio Grande do Sul, totalizando pelo menos 70 dias de estrada.
— Cada um dos livros aborda a história, a geografia e a realidade econômica dessas regiões. Os judeus estão presentes no Brasil desde as naves de Cabral — explica Goifman, colaborador da revista National Geographic.
Sinagogas no Interior
Com prefácio de Nilton Bonder, rabino e escritor; apresentação de Sergio Lerrer, jornalista e idealizador do Polo Turístico Histórico Judaico de Quatro Irmãos e Região; e orelha de Nilton Wainer, presidente do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, o livro registra a multiplicidade de experiências dos judeus gaúchos.
As fotografias, realizadas em 2023 e 2024, mostram essa presença em cidades como Porto Alegre, Santa Maria, Quatro Irmãos, Erechim, Passo Fundo, Pelotas e Rio Grande.
— Quase nenhum judeu de outro lugar do Brasil imagina que existam sinagogas funcionando em Erechim, Passo Fundo, Santa Maria ou Pelotas — diz o autor.

Moisés das Américas
Foi em 1904 que se estabeleceu a primeira colônia judaica no Rio Grande do Sul, em Philippson, perto de Santa Maria. Depois, em 1912, veio a de Quatro Irmãos, na região de Erechim. Os empreendimentos foram viabilizados pela Associação de Colonização Judaica (ICA), do Barão Maurice de Hirsch, como forma de garantir uma nova vida aos judeus que eram perseguidos no Leste Europeu.
Entre o final do século 19 e o início do século 20, por exemplo, ocorreram no Império Russo massacres conhecidos como pogroms. Por ter conduzido aquelas famílias em direção a "terras prometidas" no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos e no Canadá, o Barão Hirsch ficou conhecido como Moisés das Américas.
— Como a maior parte dos judeus que vieram para a região não tinha necessariamente uma aptidão agrícola, a colônia de Philippson acabou em 1923. Em Quatro Irmãos, durou um pouco mais e resolvi usar como personagens os judeus que resistiram no mundo agrícola, notadamente a família Agranionik, de Erechim — conta Goifman.
Judeu gaúcho
O autor acrescenta que o patriarca da família, Maurício, morreu no ano passado, pouco antes da enchente:
— Maurício foi o fundador de um CTG e representa talvez o caráter do judeu gaúcho, um grupo de pessoas que respeitam tanto a tradição judaica como a tradição gaúcha. Tudo feito de um jeito muito intenso.
Enquanto fotografava e entrevistava para o livro, Goifman também filmava, assim como havia feito em outros trabalhos:
— Como os demais projetos de cinema ou TV, ainda estamos incluindo na Lei de Incentivo (Lei Rouanet) para em seguida ir atrás de patrocinadores.
