Quase dois anos depois de sua morte, o escritor porto-alegrense João Gilberto Noll (1946-2017) será homenageado em um festival planejado para levar sua literatura de volta para casa. Tem início hoje e vai até o dia 28 de março a primeira edição do Festival Rastros do Verão, uma série de encontros e palestras sobre literatura que será realizada em quatro livrarias da Capital – três delas localizadas na mesma Rua Fernando Machado onde o autor morou pelos últimos anos de sua vida.
O Festival Rastros do Verão terá lugar nas livrarias Baleia (Rua Coronel Fernando Machado, 85), Taverna (Fernando Machado, 370), Padula (Fernando Machado, 997) e Bamboletras (Centro Comercial Nova Olaria, Rua General Lima e Silva, 776). Elas receberão, ao longo de mais de um mês, palestras e bate-papos entre 36 escritores. O encontro de abertura será realizado hoje, às 19h30min, na Bamboletras, reunindo os escritores Paulo Scott e Daniel Galera e o dramaturgo e diretor de teatro Julio Conte, três artistas para quem Noll foi importante não apenas como influência literária:
– Todas as pessoas nessa mesa tiveram o Noll como uma figura muito importante, como escritor e como figura humana. Acho que a mesa vai passear por essas experiências que tivemos com a obra do Noll e com ele próprio. Ele era um autor que a gente estava acostumado a ver na cidade, andava muito na rua. Para mim, pelo menos, é estranho pensar que ele não existe mais, embora, claro, fique o legado de sua obra – diz Galera.
O nome do projeto vem de uma das primeiras narrativas longas de Noll, seu terceiro romance, publicado em 1986, que flagra um homem voltando a Porto Alegre de uma jornada sobre a qual pouco se sabe, e que faz amizade com um jovem que conhece no Chalé da Praça XV. Como em outros livros de Noll, é um romance em que a presença de Porto Alegre é um dos elementos centrais da obra – assim como a linguagem única que o autor tornou sua característica, e que criava uma atmosfera de angústia, dúvida e poesia. Ao falar sobre o que sempre o impressionou na literatura de Noll, Galera aponta:
– A maneira como as narrativas em prosa dele fluem, têm uma coisa aquática na forma como a história se desenrola. Parece que nada está acontecendo, mas tem ali uma multidão de pequenos acontecimentos fundamentais. Isso e a simples beleza da escrita dele, frase a frase. A gente pode de verdade saborear a linguagem. Há autores que são tecnicamente e que podem produzir um achado interessante, mas com ele a gente sabia que havia deparado com uma coisa muito bonita logo nas primeiras páginas.
Para ocupar um vácuo na agenda da capital
A iniciativa do Festival é do produtor Fernando Ramos, também responsável pela criação da FestiPoa Literária, evento que se tornou referência de programação literária na Capital. Exatamente como a FestiPoa, surgida em 2008 para movimentar a cena literária no primeiro semestre e valorizar as pequenas livrarias como sede de eventos de cultura, o festival em homenagem a Noll também surge da percepção de Ramos de uma lacuna no calendário cultural da cidade:
– É a “baixa temporada” para os eventos de literatura. Temos uma entressafra pós-Feira do Livro que vai até o Carnaval, às vezes até depois, e várias livrarias se ressentem disso. As pessoas tiram férias, vão para a praia, e rola uma pequena debandada. Pensei em fazer algo que reunisse quem ficou e chamar os leitores para as livrarias – diz Ramos.
De acordo com ele, outro propósito do evento é aproveitar o aparente recesso de início do ano para fazer um balanço do que foi publicado na literatura local – Noll, o “padrinho espiritual” será o tema na abertura e no encerramento, e muitas das outras palestras serão sobre os livros dos autores participantes.
– Na hora em que pensei em fazer o festival, me vieram na cabeça muito rápido mais de 20 livros novos lançados em 2018 que eu tinha ido ao lançamento, conhecia o autor. E eu quis aproveitar essa entressafra, para pôr na roda autores que estiveram em atividade ao longo do ano – comenta.
A programação completa
Segunda-feira (18), às 19h30min: bate-papo com Paulo Scott, Daniel Galera e Julio Conte. Livraria Bamboletras ( R. Gen. Lima e Silva, 776).
Terça-feira (19), às 19h30min: bate-papo com Luisa Geisler, José Francisco Botelho e Luis Augusto Farinatti. Mediação de Milton Ribeiro. Livraria Bamboletras (R. Gen. Lima e Silva, 776).
Quarta-feira (20), às 19h30min: bate-papo com Santiago, Rafael Correa e Aline DaKa. Padula Livros (R. Cel. Fernando Machado, 997)
Quinta-feira (21), às 19h30min: leituras com Lilian Rocha, Diego Petrarca e Ryan Mainardi. Padula Livros (R. Cel. Fernando Machado, 997)
Quarta-feira (27), às 18h30min: sessão de autógrafos com Alexandre Lucchese; às 19h30min: leituras com Juliana Meira, Lais Chaffe, Sara Albuquerque e Nanda Barreto. Livraria Taverna (R. Cel. Fernando Machado, 370)
Quinta-feira (28), às 19h30min: bate-papo: Lelia Almeida, Monique Prada e Atena Beauvoir. Mediação de Nanni Rios. Livraria Baleia (R. Cel. Fernando Machado, 85)
13 de março, às 19h30min: bate-papo com os editores e livreiros João Xavier, Luiz Maurício Azevedo, Fernanda Bastos, Tito Montenegro, Nanni Rios, Milton Ribeiro e Ederson Lopes. Mediação de Vitor Diel. Livraria Baleia (R. Cel. Fernando Machado, 85)
20 de março, às 19h30min: leituras com Ronald Augusto, Fernanda Bastos e Diego Grando. Livraria Bamboletras (R. Gen. Lima e Silva, 776).
21 de março, às 19h30min: bate-papo com Samir Machado de Machado e Tobias Carvalho. Livraria Taverna (R. Cel. Fernando Machado, 370)
25 de março, às 19h30min: bate-papo com Moema Vilela e Jeferson Tenório. Mediação de João Nunes Jr. Livraria Taverna (R. Cel. Fernando Machado, 370)
26 de março, às 19h30min: Bate-papo com Flávio Ilha, Luiz Maurício Azevedo e Lívia Araujo. Mediação de Fernando Ramos. Livraria Bamboletras (R. Gen. Lima e Silva, 776).
28 de março, às 19h: bate-papo com Flávio Ilha, Vitor Necchi e Fernando Ramos. Livraria Taverna (R. Cel. Fernando Machado, 370)