Os entusiastas da cultura pop dos anos 1980 ganham hoje mais de 400 páginas de nostalgia, com o lançamento de Tupinilândia. O novo livro do escritor gaúcho Samir Machado de Machado, o primeiro pela editora paulista Todavia, tem como tema central um parque de diversões com brinquedos como Autorama Copersucar, Teleférico do Balão Mágico e Casa do Futuro Prosdócimo, além de shows com Vigilante Rodoviário e passeios de Gurgel.
Autor de Quatro Soldados (Não Editora, 2013), ambientado nas Missões Jesuíticas do século 18, e Homens Elegantes (Rocco, 2016), na Londres de 1760, Samir tem consolidado sua carreira como autor de romances com pano de fundo histórico. O novo romance se divide em duas partes. No início, o leitor acompanha a jornada de um jornalista que cobre a inauguração de Tupinilândia, um parque temático no interior do Pará, criado por um investidor que celebrava o nacionalismo e a abertura política do Brasil dos anos 1980. A segunda parte se passa em 2016, quando um arqueólogo é contratado para explorar as ruínas do projeto.
– Pesquisa é um processo bastante natural para os meus livros. Entrevistei algumas pessoas que me ajudaram a montar personagens, gente que mora na região onde a trama se passa, já que é um local distante de Porto Alegre, além de arqueólogos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois o livro tem esse ar levemente Indiana Jones – conta Samir.
Com ação e aventura, a trama busca divertir o leitor:
– Minha geração está encontrando um público leitor interessado em uma literatura pop. Os livros de fantasia do Felipe Castilho têm características próprias da realidade brasileira, e o último livro do Raphael Montes tem elementos de crítica social. Da mesma forma, o que eu faço é entretenimento, mas ainda é complicado falar disso nesses termos, pois soa pejorativo para muita gente. Não vejo por que não podemos escrever “entretenimento” com “e” maiúsculo. Tem muita gente preocupada em ser Balzac e esquece de ser Júlio Verne – diz Samir.
Entretenimento e fantasia, mas com viés crítico. A inauguração de Tupinilândia foi barrada porque a linha dura do Exército, preocupada com o fim da ditadura, invadiu o local – ações semelhantes ocorriam no início dos anos 1980 contra quem era a favor da abertura. Em 2016, os antropólogos se surpreendem com um grupo de habitantes no parque abandonado: trata-se de uma comunidade que não sabe que a ditadura e a Guerra Fria acabaram.
– O humor é um elemento essencial em um livro de aventura, e uma coisa muito própria do brasileiro é saber encarar o caos com senso de humor – avalia Samir.
Tupinilândia
De Samir Machado de Machado.
Todavia, 452 páginas, R$ 69,90.
Lançamento nesta segunda-feira (25), às 19h, na Livraria Cultura (Tulio de Rose, 80), em Porto Alegre, com sessão de autógrafos e bate-papo com o autor.