Maria Fernanda é elétrica, audaciosa, aventureira, sempre correndo, tentando chegar à frente de seus pais e colegas ao fim da rua, ao caixa do mercado. Aos 14 anos, contudo, uma corrida de bike numa pista de bicicross artesanal construída por ela e por outros amigos num descampado resulta em uma queda violenta com uma forte batida na cabeça. Como resultado da lesão, Nanda, como é chamada, é diagnosticada com epilepsia, e é aí que sua vida se torna estagnada por quase 20 anos. É essa a trama básica de Controle, romance que a escritora Natalia Borges Polesso autografa em Caxias e Porto Alegre (veja abaixo).
Controle não divide o mesmo nome que a cinebiografia de Ian Curtis dirigida por Anton Corbijn em 2008 por acaso. A música do New Order, grupo formado pelos remanescentes do Joy Division após o suicídio de Curtis, é um ponto de ancoragem importante para Nanda – por vezes, a única coisa que a mantém à tona.
— Esse romance nasceu como encomenda em 2015 para uma coleção de romances que misturava literatura e o trabalho de algum artista musical. Eu fiquei com o New Order. Mas a coleção foi cancelada e fiquei com um outro esboço desse livro. Retomei o projeto de 2017 até o início de 2019 — conta Natália.
A descoberta da doença deixa a vida de Nanda em suspenso. Ela interrompe a escola devido às crises constantes. O efeito do tratamento e sua própria apatia a mantém reclusa na casa dos pais, na mesma cidade do Interior onde nasceu, enquanto os amigos e colegas vão se afastando para seguir a vida. Só depois de anos de estagnação e de estar com as crises aparentemente sob... controle, claro, ela decide tomar uma atitude inusitada e romper com a bolha ao mesmo tempo segura e opressiva em que vive. Um dos elementos de maior força do livro é a forma como a angústia da personagem é narrada e vivida praticamente toda na interioridade da protagonista.
— Pesquisei muita literatura médica para entender a doença, mas só fui entender a personagem quando descobri fóruns e canais de pessoas que dividiam sua experiência. Meu desafio era não cair em estereótipos — conta a autora.
CONTROLE
De Natalia Borges Polesso
- Romance, Cia das Letras, 176 páginas, R$ 44,90.
- Lançamento nesta sexta-feira (19) em Caxias do Sul, às 19h, na Livraria Do Arco da Velha (Dr. Montaury, 1.570), e sábado (20) em Porto Alegre, às 17h30min, na Livraria Baleia (Rua Fernando Machado, 85).
Prateleira
BREGANEJO BLUES
De Bruno Azevêdo
Nova edição deste “romance noirdestino”, combinando a sátira e a irreverência de uma prosa afiada, o universo da música brega regional, quadrinhos e clichês do universo policial.
Em São Luís do Maranhão, um taxista que também faz bicos como detetive particular é contratado para seguir o rastro de um homem morto – integrante de uma dupla sertaneja que forjou a própria morte e começou nova carreira após uma cirurgia de mudança de sexo.
Editora Veneta, 168 páginas, R$ 34,90.
HOJE NÃO VOU FALAR DE AMOR
De Rubem Penz
Cronista, organizador de antologias e ministrante de uma das mais assíduas oficinas dedicadas ao gênero no Estado, Rubem Penz lança com este livro uma nova amostra de seu trabalho solo.
Como a brincadeira do título insinua, o elemento unificador do livro não é temático, e sim a forma. As crônicas de Penz transitam entre vários estilos e tons, do lirismo mais tradicional associado ao gênero ao humor rápido de observação e à discussão sobre temas e autores.
Metamorfose, 200 páginas, R$ 35.
MEU ANO DE DESCANSO E RELAXAMENTO
De Ottessa Moshfegh
Americana de ascendência croata e iraniana, Ottessa Moshfegh faz aqui o relato de uma jovem que, apesar de viver em relativo privilégio (tem dinheiro guardado, ganhou recentemente uma herança e ainda recebe seguro-desemprego), sucumbe a uma anomia que a faz passar um ano praticamente dormindo, emergindo para conversas com uma amiga e consultas com uma psiquiatra pouco ética.
Tradução de Juliana Cunha. Todavia, 240 páginas, R$ 54,90 e R$ 32,90 (e-book).
ESTE É O MAR
De Mariana Enriquez
O novo livro da autora argentina, elogiada pelo volume de contos As Coisas que Perdemos no Fogo, é um romance de fantasia e horror que acompanha o trabalho das Luminosas, seres mitológicos que trabalham em segredo para transformar jovens talentosos em ídolos do rock. Para cumprir sua tarefa, usam poderes especiais e geralmente têm a morte como aliada: o fim trágico de um artista pode transformá-lo em mito.
Tradução de Elisa Meneszes. Intrínseca, 176 páginas, R$ 29, 90 e R$ 12,74 (e-book).