Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
Ao entrelaçar as histórias de Samuel, um sobrevivente da Áustira nazista, e Anita, uma menina de El Salvador separada da mãe em meio à crise imigratória nos Estados Unidos, Isabel Allende dá voz às crianças órfãs durante tempos de violência que fogem da razão humana.
Uma das escritas mais potentes da língua espanhola, que viu de perto golpes militares e viveu no exílio já adulta, Isabel provoca em O Vento Sabe meu Nome ao trazer à tona o poder do pertencimento. E das lembranças — e como cada um lida com elas nos momentos de traumas.
Samuel precisou emigrar para a Inglaterra aos cinco anos, levando seu violino, uma medalha por bravura (que por vezes é um fardo no seu destino. Afinal, o que é ser valente no desespero?) e imagens da mãe, da fumaça e dos gritos.
Já Anita, aos sete, refugia-se em um mundo só seu, batizado de Azabahar, onde repete à exaustão para a irmã Claudia, já morta, "coisas que sabemos, mas não podemos esquecer".
Se muitos precisam deixar memórias para trás para sobreviver, outros criam um território seguro, onde não é preciso morrer para viver em lugar tão legal quanto o céu.
Não só o encontro, mas a trajetória dos dois nos lembra da necessidade dos laços, do cheiro, do idioma. Que ter um nome para lutar é algo que nem a mais feroz das guerras nos tira. E o vento sempre o soprará para nos devolver o chão.

"O Vento Sabe meu Nome", de Isabel Allende
- Bertrand Brasil, 224 páginas, R$ 69,90
- Tradução de Ivone Benedetti