Porto Alegre vai ganhar uma das livrarias mais tradicionais e queridas do Brasil: a Livraria da Travessa. Nascida no Rio de Janeiro há exatos 50 anos, a rede criada por Rui Campos se abrirá uma filial no Shopping Iguatemi.
O editor esteve na Capital no início desta semana, e eu conversei com ele no Café da Catedral, no Centro Histórico. Gostei do que ouvi. Rui está encantado com a cidade:
— Ficamos impressionados com a receptividade e com o nível cultural de Porto Alegre. A capital gaúcha tem um grande potencial, por uma série de razões: a presença de escritores, as editoras locais, a Feira do Livro e a quantidade de jornais. Só senti receptividade assim quando chegamos a Lisboa.
Fundada em 1975 como reduto de resistência à ditadura militar, a Travessa tem hoje 14 lojas no Rio, em São Paulo, Brasília e na capital portuguesa.
O convite do Iguatemi veio no fim de 2021. Na ocasião, Rui abriu primeiro a filial do shopping na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Quando planejava a instalação em Porto Alegre, teve os planos interrompidos pela enchente de 2024, mas não desistiu.
— Vi de longe tudo o que aconteceu e fiquei muito tocado. É bom saber que Porto Alegre está se recuperando — disse o empresário, apostando na retomada.
O espaço terá 400 metros quadrados, seguirá os moldes da loja paulista e será gerido pela jornalista e tradutora gaúcha Eunice Gruman, que está radiante:
— É uma livraria especial, com um trabalho de curadoria cuidadoso e artesanal. Estou muito feliz.
Se tudo der certo, a montagem deve começar entre março e abril, e a expectativa é de que o negócio abra as portas em julho ou agosto deste ano, com atenção especial à literatura produzida no Rio Grande do Sul.
— Vamos destacar editoras e autores gaúchos e teremos um cantinho só para a L&PM (dos gaúchos Ivan Pinheiro Machado e Paulo Lima). Já fechamos a parceria — antecipou Rui, que revelou ser fã de Martha Medeiros (a escritora costuma lançar seus livros na Travessa do Rio).
Além de conversar com parceiros do mercado editorial, o editor aproveitou a estadia para fazer um tour por Porto Alegre acompanhado da jornalista gaúcha Letícia Nascimento, que veio de Londres para recebê-lo. Visitou o Mercado Público, o Chalé da Praça 15, a Casa de Cultura Mario Quintana e o Pontal Shopping, entre outros pontos.
— Estou apaixonado pela cidade — confidenciou o mineiro.
A Livraria da Travessa
A história começou em 1975, na pequena Livraria Muro, situada no subsolo de uma galeria do bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. A Muro se tornou lugar de resistência política ao abrigar performances dos poetas da chamada poesia marginal, além de livros de oposição ao regime militar.
Em 1986, a loja ocupava o número 11 da Travessa do Ouvidor, no centro da cidade, quando virou Livraria da Travessa. A pequena Travessa Do Ouvidor é transversal à efervescente e vanguardista Rua do Ouvidor do início do século 20 — um dos berços da atividade tipográfica e das primeiras livrarias brasileiras, onde escritores, cronistas e jornalistas se encontravam, liam seus jornais, tomavam café e se inspiravam para escrever.
No decorrer dos anos 1980 e 90, a Travessa especializou-se no mercado de livros estrangeiros e de arte, tornando-se distribuidora de obras importadas para outras livrarias.
De lá para cá, o negócio se consolidou e fez história. Hoje, são 14 filiais, 13 no Brasil e uma em Portugal.