
Quando a noite cair, neste sábado (22), Porto Alegre receberá as duas mais icônicas vozes brasileiras. Estou sendo parcial, eu sei, mas os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia — que o destino fez cantores — não são apenas grandes artistas. São histórias de vida em letras de música. São patrimônio nacional.
Será que eles vão ler este texto? Não sei. Escrevo mesmo assim. Talvez tenha alguém aí do outro lado que divida comigo o sentimento de admiração profunda.
Eu estarei lá, para ver meus ídolos de perto na Arena do Grêmio — nem tão perto quanto eu gostaria, é verdade, mas para vê-los juntos no mesmo palco, ao vivo, celebrando a beleza da vida, da arte, da palavra cantada e da poesia que tira notas e partituras para dançar.
Porque é precisamente isso que eles fazem: tecer poemas em forma de música. Como diz Caetano, gostamos mesmo é de sentir a nossa língua roçar a língua de Luís de Camões.
Quem, senão esses dois filhos da Bahia de São Salvador, poderiam personificar canções como Gente, Reconvexo, Terra, Tigresa, Cajuína? Quem poderia cantar com tanta propriedade Tropicália, Um Índio, Sampa? São tantas canções que não cabem aqui.
Sim, enquanto “os homens exercem seus podres poderes”, nós estaremos lá: eu, eles e milhares de pessoas (cúmplices?), celebrando a música que faz pensar. Respeito quem gosta, mas cansei do Trap do Trepa Trepa. Eu quero mais Bethânia e mais Caetano, obrigada.
Ela, aos 78 anos, acaba de completar seis décadas de carreira. Ele, 82 de vida, 55 nos palcos do mundo. Sim, porque além do papel seminal no que convencionamos chamar de Música Popular Brasileira (MPB), os filhos de Dona Canô foram muito além.
Estarei lá, sim, vibrando enquanto os átomos todos dançarem. Estarei lá, sorvendo cada verso. Eu vou... Por que não? Por que não?
Curiosidades sobre Caetano e Bethânia
- A turnê que vem a Porto Alegre já passou por nove capitais
- Desde o início dos shows, em agosto de 2024, a turnê atraiu meio milhão de pessoas
- Devido à enchente de 2024, a apresentação na capital gaúcha encerrará a temporada, sucesso de público e crítica e, desde já, considerada histórica por reunir os dois ícones depois de 46 anos
- Até então, a única turnê conjunta dos irmãos havia ocorrido em 1978. Ela deu origem ao álbum Maria Bethânia e Caetano Veloso – Ao vivo, que virou um clássico
- Bethânia é a caçula de oito irmãos, e quem escolheu seu nome foi Caetano, inspirado em uma canção de Nelson Gonçalves
- Os dois juntaram-se a Gilberto Gil e Gal Costa em 1975 e criaram Os Doces Bárbaros
- Caetano foi perseguido e preso na ditadura militar. Quando estava na cadeia, criou a canção Terra, inspirado em uma fotografia do planeta visto do espaço que estava colada na parede da cela