Não há nenhum absurdo em técnicos de futebol optarem por adaptar jogadores a posições que não as suas de origem. Inúmeros casos já deram certo, consagraram o técnico que assim idealizou e o atleta que se submeteu à troca até de setor. Este, porém, ainda não é o caso de Zé Gabriel. O hoje zagueiro do Inter está sendo vítima de uma enxurrada de críticas pelo fato de apresentar dificuldade para cumprir as ordens de seus comandantes fora de seu lugar de origem.
Zé Gabriel era volante de origem — e bem conceituado como tal nas categorias de base coloradas. Eduardo Coudet, no início do ano passado, optou por utilizá-lo como zagueiro pela direita quando Bruno Fuchs foi vendido, preterindo o experiente e provado Rodrigo Moledo.
O início do que ainda era uma improvisação foi bom. O jogador mostrou capacidade de saída de jogo melhor do que seu antecessor, que não conseguira atuações convincentes até então. Parecia que tudo ia funcionar e que um zagueiro se afirmaria. Veio a natural oscilação dos jovens, aliada a uma desastrada tentativa do treinador de utilizá-lo pela esquerda da defesa na ausência de Víctor Cuesta. Foi o que bastou para o projeto de defensor para Zé ser abalado profundamente.
Com a chegada de Abel, Moledo reassumiu a titularidade e, quando se machucou, a vaga ficou com Lucas Ribeiro. Zé Gabriel se tornou reserva da zaga e não voltou a ser usado na sua velha posição de volante. Foi com Miguel Ángel Ramírez que houve seu retorno ao time como zagueiro, algo que provavelmente foi fruto de uma conversa entre Ramírez e Coudet revelada pelo atual técnico colorado.
Os resultados das atuações são os mesmos de quando o torcedor começou a criticar o atleta, e erros como o passe que gerou o segundo gol do Always Ready estão queimando um jovem promissor que está exposto sem direito a sequer ser testado na função de origem.
Não seria o caso do treinador colorado pelo menos experimentar Zé Gabriel como volante? Num momento em que Rodrigo Lindoso não se mostra mais tão eficiente como em outros tempos, deixando Rodrigo Dourado sem uma reposição à altura, e Johnny aparece mais destacado de segundo homem de meio-campo, não custaria nada a tentativa com Zé. Insistir nele como zagueiro é arriscado e pode levá-lo e perder totalmente a consideração da torcida, o que seria uma injustiça.