Não haverá nenhum 16 de julho que passará sem que os brasileiros lembrem de que, certa vez nesta data, a Seleçãodeixou o país em lágrimas. Nem os uruguaios, merecedores e vencedores heroicos da Copa do Mundo de 1950 comemoram tanto o "maracanazo" quanto se lamenta por aqui o "maracanaço". Há semelhanças com outras frustrações nacionais como a perda do mundial de 82, numa fase anterior à semifinal diante da Itália, ou a fiasquenta eliminação de 7 a 1 para a Alemanha em 2014, mas não existe o peso da dor que há 70 anos o Brasil viveu.
Mesmo quem estava longe de nascer em 1950, sabe o que significou a derrota diante dos uruguaios. Pais, avós e bisavós já contaram. O Brasil tinha um time magnífico, era dono da casa, vinha de uma excelente campanha e construiu, junto com o maior estádio do mundo, um ambiente de vitória. Não houve contestação até a hora do gol de Ghiggia no final da decisão.
Ah...o placar foi de virada, quando o empate bastava para a Seleção Brasileira. O país chorou acompanhando pelo rádio. Do Maracanã surgiu um silêncio devastador que se espalhou pelo Rio de Janeiro. Histórias e mitos se criaram e persistem até hoje. O injustiçado goleiro Barbosa que, de onde estiver, perdoe seus detratores. Setenta anos depois, aquele fantasma ainda persiste, por mais que já se tenha exorcizado com vitórias sobre o Uruguai ou conquistas em verde e amarelo.
Para quem lembra 1982, a comparação não tem a mesma intensidade pelo simples fato de que, há 70 anos, a derrota foi em casa, de virada e na final da competição, com 200 mil brasileiros no estádio. Já para os que se referem ao que aconteceu no Mineirão em 2014, o que tem que ser levado em conta, além de que o jogo não decidia o título, é o fato de a Seleção Brasileira ter perdido para um time melhor e cuja campanha foi superior desde o início do torneio. Era lógico perder, o problema foi a humilhação do escore.
O 7 a 1 de 2014 é o maior vexame da história do futebol brasileiro e isto poucos contestam, se é que alguém o faz. Aí está a grande diferença. Em 1950 não houve fiasco, houve uma derrota, a mais traumática delas, mas foi uma derrota. Enquanto do Maracanã, há 70 anos, as pessoas demoraram a sair e deixaram o local aos prantos, no Mineirão já havia torcedores debandando no intervalo com suas cervejas na mão e fazendo ironias e piadas com o que estavam presenciando.
A lamentação era pelo dinheiro investido em ingressos e passagens, nunca pela honra nacional. Não houve choro, tampouco traumas. São poucos e serão menos no futuro os que terão de memória o 8 de julho como data marcante em sua vida de torcedor. Já o dia 16 do mesmo mês permanece de geração para geração como uma marca forte e negativa no calendário. Sete décadas depois, nos resta mais uma vez saudar os uruguaios. Ganharam e respeitaram, mas deixaram um país arrasado.