O Grêmio em 1993 estava com muito pouco dinheiro. No início do ano, montou um time com dificuldades e contratos de curta duração. Se deu relativamente bem no primeiro semestre, vencendo Gauchão depois de perder a final da Copa do Brasil para o Cruzeiro. O maior reforço naqueles meses, o jovem craque Dener, acabou indo embora após um rápido empréstimo porque o clube não teve dinheiro para comprá-lo da Portuguesa. Outros titulares campeões gaúchos saíram como os laterais Luís Carlos Winck e Eduardo Souza, que receberam propostas melhores depois de seis meses no Olímpico. Não havia como segurá-los. A contratação mais cara foi a do centroavante Charles, ex-Bahia, que estava no Boca Juniors.
Iniciado o Brasileirão e com a Supercopa da América como desafio, o consenso interno era de que uma contratação de impacto se fazia necessária para aumentar a autoestima do torcedor no segundo semestre, mas a criatividade era fundamental para se gastar pouco. As chances no certame nacional eram não mais do que regulares contra poderosos como o campeão mundial São Paulo ou o poderoso Palmeiras da Parmalat. Com Luiz Felipe Scolari recém colocado no cargo de técnico, a ordem no Estádio Olímpico era fazer uma campanha sem sobressaltos ou riscos.
Numa reunião da diretoria tricolor, em meio a sugestões e impossibilidades de nomes, eis que um dirigente lembrou que Diego Maradona estava brigado com seu time, o Sevilla da Espanha, totalmente fora de forma e sem destino certo. Menos de um ano antes, o supercraque tinha saído de uma suspensão por doping. A ideia exposta aos demais componentes da direção visava uma estratégia de marketing, com o argentino, a princípio, utilizando as instalações do Grêmio para o recondicionamento físico. O clube daria a estrutura e teria uma visibilidade mundial com o visitante ilustre. O torcedor adoraria. Não haveria vínculo, até porque não se tinha dinheiro, mas se apostaria numa afeição do jogador e, quem sabe, numa conversa ao final do período para uma proposta.
Para realizar o sonho, caminhos eram expostos pelo mesmo dirigente para se confiar num acerto. O Grêmio tinha naquele ano se aproximado do staff de Diego Maradona na negociação envolvendo o Charles que saiu do Boca Juniors, mas cujo passe pertencia ao craque argentino. Muitas foram as conversas sobre aquele assunto entre o vice-presidente de futebol gremista, Luís Carlos Silveira Martins, com os empresários de Maradona, mas jamais com a participação do jogador. Foi Cacalo, aliás, quem começou a desmontar o delírio que poderia evoluir, evitando que o assunto tomasse corpo.
— Em todo o tempo da contratação do Charles, só falei com representantes do Maradona, mas nunca estive nem perto dele. Não o conheci. Não tinha a mínima condição — relembra o ex-dirigente em meio a risos.
Junto ao diretor de futebol César Pacheco e o diretor médico Celso Jacobus, o vice presidente simplesmente ignorou qualquer possibilidade da ideia exposta se tornar sequer uma especulação. O presidente Fábio Koff, bem ao seu estilo, ironizou sobre o tema, lembrando que já havia um Maradona no Olímpico, o supervisor Sérgio Abreu, cujo apelido era “Serginho Maradona”. O assunto não foi mais tratado na reunião e outros temas entraram na pauta. Houve, porém, o relato do conteúdo pitoresco do encontro para várias pessoas das relações dos presentes, inclusive para jornalistas. Chegou então à imprensa que existia o interesse gremista em ter o verdadeiro Maradona, algo que não esteve nem perto de acontecer. O que houve foi um “quanto custa para Maradona treinar no Grêmio?”, pergunta que nem mereceu cálculo, muito menos resposta.
Pouco tempo depois, o Grêmio anunciou sua contratação “de impacto”. O lateral bageense Branco, titular da Seleção Brasileira nas Copas de 1986 e 1990 e que estava no Genoa, da Itália chegou emprestado sem custos, só pelo salário. Sob o comando de Felipão, ele vestiu a camisa do Grêmio em 11 partidas, até o final daquele ano, quando saiu para jogar pela segunda vez no Fluminense e integrar o time brasileiro tetracampeão mundial nos Estados Unidos, no mesmo torneio em que Maradona foi pego no exame antidoping. No Olímpico, Dieguito já havia estado bem jovem para um amistoso do Argentino Júniors em 1980 na reinauguração do estádio e voltaria em 2007 como um delirante torcedor para assistir à final da Libertadores entre Grêmio e Boca Juniors.