Se você tem menos de 30 anos, é provável que conheça pouco da história de um dos jogadores mais talentosos da história recente do futebol brasileiro. Isso porque Dener Augusto de Sousa teve pouco tempo para mostrar sua habilidade. Um acidente de trânsito tirou a vida do promissor meia-atacante dias depois de ele completar 23 anos.
Escrevo sobre Dener pois, na última quarta-feira, completaram-se 24 anos da morte dele. Lembro que me arrumava para ir ao colégio quando fiquei sabendo da notícia. O jogador estava na carona de seu Mitsubishi Eclipse, carro sinônimo de potência e modernidade na década 1990. Conduzido por um amigo do jogador, o veículo atingiu uma árvore na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, vitimando a promessa de craque.
Também resolvi relembrar Dener porque me considero um privilegiado de tê-lo visto em ação. Isso, para um guri do Interior, é quase uma façanha. O jogo em questão ocorreu no inverno de 1993, um duelo pelo Campeonato Gaúcho, no Estádio Presidente Vargas, em Santa Maria. Mas, antes de falar sobre a partida, preciso comentar um pouco a respeito da carreira desse talentoso jogador e da vinda dele para o Rio Grande do Sul.
Dener apareceu para o Brasil em 1991, na disputa da tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior. O guri negro, de pernas finas e habilidade incomum, foi o craque da competição vestindo a camiseta da Portuguesa. Na final contra o Grêmio, que tinha Danrlei e Carlos Miguel, ele estraçalhou. A partir daí, o meia-atacante passou a acumular dribles e golaços. Suas arrancadas em velocidade, cortando as defesas adversárias, ainda guardo na memória.
Dois anos depois, o Grêmio anunciou a contratação de Dener por empréstimo. Recordo de muitos analistas e comentaristas afirmando que ele não daria certo no Rio Grande do Sul, que era muito franzino para suportar os fortes zagueiros gaúchos e não conseguiria jogar nos nossos pesados (ruins) gramados. Mas, obviamente, o talento venceu. Os defensores, coitados, não conseguiam encontrar o guri. E os campos não foram obstáculo.
Agora volto ao jogo de Santa Maria. Na época, o meu glorioso Inter-SM era presença assídua na Série A do Gauchão. E a partida em questão era decisiva para o Grêmio, valia por uma das últimas rodadas da fase final. Tinha 15 anos e lembro que o gramado da Baixada Melancólica estava encharcado, daquele jeito que os analistas afirmavam que Dener não conseguiria jogar. Porém, ele jogou, e muito. O gol da vitória dos visitantes surgiu dos pés dele. Liso, escapou pela esquerda, correu como se deslizasse sobre a água, deixou os adversários para trás e cruzou para Fabinho, um atacante que o Grêmio trouxe do Corinthians, marcar.
Procurei esse gol no YouTube algumas vezes e não encontrei. Para você que não conhece Dener, pesquise na internet que achará lances geniais desse virtuose do mundo da bola, como os dribles em um jogo do Vasco diante do Newell's Old Boys, que deixou Maradona boquiaberto.
Pepe, ex-jogador do Santos, disse uma vez que Dener foi um dos cinco melhores atacantes que ele viu jogar, colocando-o ao lado de nomes como Eusébio e Puskas. Infelizmente, não temos como saber até onde o guri chegaria, mas dá para afirmar que continuaria sendo o pesadelo de seus marcadores.