A morte de Diego Maradona aos 60 anos põe fim à existência física de um dos maiores ídolos do esporte em todos os tempos e definitivamente o transforma em mito. Os argentinos são muito afeitos a isto. Evita, Juan Perón e Carlos Gardel passam a ter alguém como eles ou maior para dividir a devoção de um povo. A diferença fundamental é que, comparado a grandes heróis e paixões do país, Maradona é mais universal. A Argentina tem o mundo como parceiro para chorar "la muerte del Diez".
Maradona foi fenômeno desde criança. Benditas as antigas câmeras de que filmaram traquinagens daquele menino cabeludo fazendo malabarismos com uma pequena bolinha de borracha. Que bom que a tecnologia evoluiu e há gravações de lances maravilhosos do início de sua carreira no final da década de 1970. Viva a difusão da magia de um deus da bola que encantou gerações e segue encantando. Se despediu da vida um personagem da humanidade que mesclou sua genialidade esportiva com atitudes pessoais de todos os tipos, das mais louváveis a outras que mostraram quão fundo é o poço para um ser humano. Isto também o tornou mito. Diego encarnou a divindade conheceu e apreciou as profundezas do inferno.
A síntese de Maradona está naquele jogo entre Argentina e Inglaterra na Copa de 1986. Ele, numa atitude totalmente antidesportiva, embora mágica, marcou um gol com a mão, vibrou e zombou das regras do futebol. Como que numa penitência involuntária, mas real, minutos depois, dentro de todas as leis do jogo, fez o o gol mais fantástico da história dos mundiais, vencendo mais da metade do time inglês. Foi como se ele estivesse dizendo: "Queriam um gol legal? Aqui está. E poderia valer por dois". Ao mesmo tempo, seu punho erguido simbolizava a raiva de um povo que perdeu jovens numa absurda Guerra das Malvinas.
É o mágico, o gênio, o craque que deve ficar para o futebol. Como ser humano, para consolidar o mito, estará o rebelde contra instituições, o homem de posicionamentos radicais, muitas vezes o antissocial, o carismático e alguém que mergulhou na própria degradação moral. Assim foi Diego Maradona e assim será lembrado e cultuado. Haverá o maior cortejo fúnebre da história da Argentina. Seu local de sepultamento se tornará destino de romarias e uma das maiores atrações de um país que não tem hora para parar de chorar. Quem o viu jogando também não tem como conter as lágrimas. O mundo do esporte está aos prantos e dizendo em bom espanhol: "Gracias, Diego".