A 96ª cerimônia do Oscar acontece neste domingo (10)às 20h, em Los Angeles, uma hora antes do que o habitual. A transmissão no Brasil será feita pelo canal TNT e pelo streaming Max, começando às 19h, com o tapete vermelho. A escolha dos vencedores é feita pelos 9.797 membros da Academia, em votação que se encerrou no último dia 27. Em 22 das 23 categorias, o processo é simples: quem tiver mais votos, vence.
A diferença está na escolha do melhor filme, que acontece por meio do voto preferencial. Na cédula de votação, os votantes elencam os 10 concorrentes em ordem decrescente de preferência. Se na primeira rodada de apuração um filme estiver como primeiro colocado em 50% dos votos mais um, é automaticamente declarado vencedor.
A vitória imediata é extremamente improvável, considerando o número de indicados e o número de votantes. Então, ocorre uma segunda rodada de apuração, na qual o filme que apareceu menos vezes como primeiro lugar é descartado, e seus votos passam para o segundo título preferido na cédula de seus eleitores. O processo é repetido até que algum tenha mais de 50% dos votos.
Com 13 indicações, Oppenheimer é o favorito à estatueta de melhor filme e pode quebrar o recorde de maior número de vitórias em uma noite. O longa-metragem, no entanto, não seria a escolha de Ticiano Osório, colunista de cinema de GZH. Abaixo você confere oito críticas escritas por ele sobre os indicados ao Oscar.
O épico de Christopher Nolan sobre o pai da bomba atômica tem uma série de credenciais que o colocam como favorito ao melhor filme, e em algumas das outras 13 categorias que foi indicado. Uma série de prêmios importantes já recebidos e a atualidade devido ao contexto político dos Estados Unidos, próximo a uma eleição presidencial, e do mundo, diante de guerras como Rússia contra Ucrânia e Israel versus Hamas, explicitam as chances do longa-metragem. Além disso, o engajamento do público é mais um fator que favorece a obra — com mais de US$ 950 milhões arrecadados, foi a terceira maior bilheteria de 2023, atrás apenas dos bilionários Barbie e Super Mario Bros: O Filme.
Com todos estes fatores, se Oppenheimer deixar de vencer o Oscar, será por causa do complexo sistema de eleição, o do voto preferencial, que pode beneficiar um filme mais mediano, mais palatável. Leia a crítica completa.
Dirigido pelo polêmico Yorgos Lanthimos, Pobres Criaturas é baseado no romance homônimo do britânico Alasdair Gray. A história se apresenta como uma releitura de Frankenstein (1818), livro de Mary Shelley que se tornou um clássico da ficção científica e do horror ao abordar os limites éticos dos avanços da ciência. Há também um quê de Cândido (1759), a debochada obra de Voltaire sobre um jovem ingênuo e otimista que passa a testemunhar e vivenciar as dificuldades do mundo.
A protagonista é Bella Baxter, uma jovem suicida trazida de volta à vida por um excêntrico cientista, Godwin Baxter (Willem Dafoe). Encarnada com talento e destemor por Emma Stone, ela personifica uma (muito abjeta) fantasia sexual masculina: tem o corpo de uma mulher e o cérebro de uma criança. Leia a crítica completa.
Martin Scorsese fez uma espécie de testamento cinematográfico em Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, 2023), trazendo praticamente todas suas as marcas. Em foco, desta vez, estão a ganância e o racismo que levaram homens brancos a exterminar indígenas Osage, no Estado do Oklahoma, na década de 1920. Esse povo nativo tinha sido expulso de suas terras para uma região rochosa e infértil, mas eles acabaram descobrindo petróleo e enriquecendo.
Não há mistério sobre para onde a trama vai, e inclusive existe um pouco de reiteração na parte que antecede o epílogo — mas esse epílogo, que conta com a participação do próprio diretor, é absolutamente surpreendente. Com um misto de criatividade e autocrítica, o direto aponta tanto para a dessensibilização das pessoas perante os crimes que ajudaram a formar o país quanto para a espetacularização da violência. Leia a crítica completa.
O filme do ano de 2023 — não necessariamente o melhor. O título inspirado na trajetória da famosa boneca criada em 1959, dirigido por Greta Gerwig e estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling justifica o status de fenômeno. É um raro tipo de superprodução: não tem um herói masculino e, mais do que isso, tem um discurso feminista. E ainda que traga o logotipo da Mattel nos créditos de abertura, nem a empresa fabricante da boneca escapa das críticas nesta sátira escrita pela diretora com o seu companheiro, o cineasta Noah Baumbach.
Trata-se de uma mistura deliciosa de comédia, aventura, musical, drama com bastante crítica social e uma pitada de romance. Na trama, todas as Barbies vivem na Barbielândia, um mundo fantástico de plástico e em cor de rosa onde as mulheres é que têm protagonismo. Ao entrar numa crise existencial, começando a pensar em morte e em celulite, a protagonista vivida por Margot Robbie descobre que precisa ir para o mundo real, para encontrar a criança que brinca com ela. O Ken (Ryan Gosling) apaixonado por ela vai junto, e aí os dois percebem que, do lado de cá, há um patriarcado: são os homens que mandam e as mulheres são constantemente assediadas e menosprezadas. Leia a crítica completa.
Primeiro longa-metragem dirigido por Cord Jefferson, que traz no currículo o trabalho como roteirista nas séries Master of None, The Good Place e Watchmen, Ficção Americana é um filme de comédia que lança um outro olhar sobre o racismo nos Estados Unidos. Foca nas ideias estereotipadas e nas práticas segregacionistas às quais personagens e autores negros estão sujeitos na literatura, no cinema, nas séries.
Isso é sinalizado já na escalação de Jeffrey Wright, um eterno coadjuvante, ao papel de protagonista. Leia a crítica completa.
A França não escolheu o filme para a categoria de melhor filme internacional, o que se confirmou como um grande erro, já que foi indicado na categoria principal. Se estivesse na competição por países, os franceses seriam os favoritos e poderiam alcançar a 13ª conquista na categoria, ficando apenas um degrau abaixo da maior ganhadora, a Itália, que tem 14 estatuetas.
Anatomia de uma Queda é um drama de tribunal sobre uma escritora, Hedwig Höss (Sandra Hüller), que é a principal suspeita de matar o marido em um chalé isolado nos Alpes franceses — o corpo foi descoberto pelo filho do casal, o menino cego Daniel (Milo Machado Graner). A investigação traz à tona as fissuras do casamento, coloca um peso sobre o garoto — seu testemunho pode ser decisivo para culpar ou inocentar a mãe — e permite ao filme discutir um tema muito contemporâneo: o que é verdade? Leia a crítica completa.
Se Ticiano Osório fosse um dos 9.797 membros da Academia que escolhem os vencedores do Oscar, Zona de Interesse seria o primeiro na ordem de preferência do colunista. O filme, ao dissociar imagem e som no retrato do cotidiano familiar do nazista comandante de Auschwitz, é, para o colunista, o mais perturbador dos indicados e também o mais ressonante, por refletir sobre a banalidade do mal e nossa capacidade de sermos indiferentes à dor alheia. O longa-metragem representa o Reino Unido na categoria de melhor filme internacional.
Zona de Interesse mostra que os monstros nazistas eram, na verdade, pessoas como quaisquer outras, pais de família que vão à igreja aos domingos ou que leem histórias para seus filhos dormirem à noite. Quando a violência, o racismo (ou o preconceito) e a ilusão são uma política de Estado, cidadãos podem, por incapacidade de formar juízo crítico ou por vontade própria, desligar seus preceitos morais e incorporar a crueldade à rotina. Podem fechar os olhos e os ouvidos ao horror.
É difícil que Zona de Interesse desbanque Oppenheimer em melhor filme, mas o cenário é promissor nas outras duas categorias. Leia a crítica completa.
O primeiro longa-metragem da diretora Celine Song se trata de um dos romances mais envolventes e comoventes dos últimos anos, mas jamais manipulativo. Vidas Passadas tampouco é maniqueísta no modo como retrata um triângulo amoroso que tem como vértice Nora Moon, papel da atriz Greta Lee. Como Celine Song, essa personagem emigrou da Coreia do Sul — e agora mora em Nova York, onde é uma escritora casada com o também autor Arthur (John Magaro).
Na outra ponta, está Hae Sung, interpretado por Teo Yoo, coadjuvante em Decisão de Partir (2022). Era o melhor amigo de infância de Nora, que tinha planos de casar com ele. O homem vai embora de Seul e fica o questionamento: o que teria acontecido se Na Young não tivesse ido embora? Essa pergunta persegue Hae Sung e o impele a procurar pistas dela no Facebook após 12 anos. Leia a crítica completa.
*Produção: Maria Clara Centeno