Oppenheimer e Christopher Nolan vêm ganhando todas as premiações — Globo de Ouro, Critics Choice, Bafta, o troféu do Sindicato dos Diretores dos EUA. Mas o complexo sistema de votação do Oscar de melhor filme não permite garantir o triunfo da cinebiografia na 96ª cerimônia da Academia de Hollywood, marcada para o dia 10 de março.
A votação final começa nesta quinta-feira (22) e termina no dia 27. Até essa data, os 9.797 membros da Academia devem eleger os vencedores nas 23 categorias.
Esse colégio eleitoral reúne artistas e técnicos de praticamente todas as áreas da indústria cinematográfica. Para fazer parte da Academia, um caminho é ter sido concorrente ao Oscar, o que gera um convite automático. Outro é ser indicado por dois profissionais que já são membros e na mesma categoria do candidato — ou seja, um diretor deve ser convidado por outros dois diretores. Depois, ocorrem avaliações internas para homologar a entrada.
Todos os membros da Academia estão aptos a votar em todas as categorias. O processo de escolha dos ganhadores é absolutamente simples em 22 categorias: o competidor que tiver mais votos vence.
No prêmio de melhor filme, a coisa é mais complicada. Não à toa, é necessária a auditoria da PriceWaterhouseCoopers (PwC).
A eleição do Oscar de melhor filme se dá pelo chamado voto preferencial. Na cédula de votação, os membros da Academia de Hollywood precisam elencar os 10 concorrentes em ordem decrescente de preferência, do primeiro ao último.
Se na primeira rodada de apuração um filme estiver como primeiro colocado em 50% dos votos mais um, é automaticamente declarado vencedor. Mas isso é extremamente improvável, considerando o número de indicados e o número de votantes.
Então, ocorre uma segunda rodada de apuração, na qual o filme que apareceu menos vezes como primeiro lugar é descartado, e seus votos passam para o segundo título preferido na cédula de seus eleitores. O processo é repetido até que um dos candidatos obtenha mais de 50% dos votos.
Sendo assim, como filmes amados por uns e odiados por outros podem ser classificados em primeiro em algumas listas e em último em outras, há grandes chances de que o Oscar vá para um título que não foi apontado como melhor pela maioria dos integrantes da Academia. Um concorrente que apareceu bastante em segundo, terceiro, talvez até quarto ou quinto lugar. Impera o gosto médio. Raramente a ousadia — temática, formal, política, sexual etc —, a experimentação, o desafio ao espectador e ao convencional vão ganhar, porque a ousadia, a experimentação e o desafio são polarizadores. Vence normalmente o que for mais palatável. Isso ajuda a explicar conquistas como as de O Discurso do Rei, em 2011, Green Book, em 2019, e No Ritmo do Coração, em 2022. E isso ajuda a achar difícil, em 2024, o triunfo de Pobres Criaturas ou de Zona de Interesse. Por outro lado, ainda que o favoritismo de Oppenheimer seja efetivamente grande, não dá para desprezar por completo a hipótese de Barbie ou Os Rejeitados erguer o último troféu da noite de 10 de março.
* Colaborou Maria Clara Centeno