Em 21 de janeiro de 2023, David Ehrlich, crítico do site estadunidense IndieWire, profetizou que Vidas Passadas (Past Lives) seria um dos melhores filmes do ano. Dito e feito.
Em cartaz a partir desta quinta-feira (25) no Espaço Bourbon Country, no GNC Moinhos e na Sala Eduardo Hirtz, o primeiro longa-metragem da diretora Celine Song recebeu na terça (23) duas indicações ao Oscar: melhor filme e roteiro original, assinado pela própria cineasta, que nasceu na Coreia do Sul e depois se radicou na América do Norte. Também disputa três Baftas, o prêmio da Academia Britânica: filme em língua não inglesa, roteiro original e ator (Teo Yoo). Vidas Passadas concorre ao PGA Awards, o troféu da Associação dos Produtores dos EUA, e Song, à categoria de estreante no DGA Awards, do Sindicato dos Diretores dos EUA. Antes, o título produzido com um orçamento de US$ 12 milhões ganhou o principal troféu no Gotham Awards, entrou no top 10 do American Film Institute e do National Board of Review e brigou por cinco Globos de Ouro e três Critics Choice.
Trata-se de um dos romances mais envolventes e comoventes dos últimos anos, mas jamais manipulativo. Vidas Passadas tampouco é maniqueísta no modo como retrata um triângulo amoroso que tem como vértice Nora Moon, papel da atriz Greta Lee, a Maxine da série Boneca Russa (2019-2022) e a Stella Bak do seriado The Morning Show (2021-). Como Celine Song, essa personagem emigrou da Coreia do Sul — e agora mora em Nova York, onde é uma escritora casada com o também autor Arthur (John Magaro, do filme First Cow: A Primeira Vaca da América).
Na outra ponta, está Hae Sung, interpretado por Teo Yoo, coadjuvante em Decisão de Partir (2022). Era o melhor amigo de infância de Nora quando ela ainda se chamava Na Young e tinha planos de casar com ele — que permaneceu em Seul. O que teria acontecido se Na Young não tivesse ido embora? Essa pergunta persegue Hae Sung e o impele a procurar pistas dela no Facebook 12 anos depois.
Não, essa expressão, "12 anos depois", nunca é empregada na divisão dos capítulos. Como uma prova escrita de sua sutileza, Celine Song usa "12 anos passaram", ou seja, o tempo se move como um rio, em um fluxo contínuo que interliga eras diferentes, passado, presente e, quem sabe, futuro. O próprio roteiro aborda diretamente o tema, ao apresentar o conceito coreano de In-Yun, que sugere: as pessoas estão destinadas a se reencontrarem se suas almas já se tocaram antes.
Vidas Passadas mexe profundamente com o espectador porque todos nós, em algum momento, já nos flagramos sonhando com uma segunda chance, flertando com as portas que se abrem ao pensar "e se...". Mas o filme também coloca nossos pés no chão, lembrando que estamos sempre em construção, sempre em movimento, sempre deixando algo ou alguém para trás — talvez até a pessoa que éramos. Pode ser que estejamos seguros de nossas escolhas e vontades, mas não somos imunes à fantasia e à nostalgia. E ao também debater os temas da identidade e da imigração, a diretora amplia a relevância e a ressonância de sua obra.