Em cartaz na Tela Quente desta segunda-feira (10), na RBS TV, O Rei Leão (2019) é o ápice comercial de uma onda da Disney que não tem hora marcada para acabar: a refilmagem com atores ou em estilo realista de um desenho animado do estúdio. Com US$ 1,66 bilhão arrecadados, trata-se também da oitava maior bilheteria de todos os tempos.
Desde Alice no País das Maravilhas (2010), que faturou US$ 1,02 bilhão, dando sinal verde para mais produções desse tipo, a Disney já lançou 15 títulos, incluindo obras que redimem clássicas vilãs — caso de Malévola (2014) e Cruella (2021). Outros dois filmes tiveram renda bilionária: A Bela e a Fera (2017), com US$ 1,27 bilhão, e Aladdin (2019), com US$ 1,05 bilhão. E alguns, vale dizer, desapontaram o público e a crítica — vide Dumbo (2019) e Pinóquio (2022).
Há pelo menos mais 10 projetos com estreia anunciada ou em desenvolvimento. Entre eles, estão A Pequena Sereia e Peter Pan & Wendy, previstos para 2023. Em 2024, devemos ter Branca de Neve e uma continuação do longa-metragem que a RBS TV exibe a partir das 23h10min: Mufasa: O Rei Leão. Na verdade, é o que em Hollywood se chama de prequel, pois se passará antes da primeira história, em um período no qual o pai de Simba era mais jovem. Dublado por James Earl Jones no original e na refilmagem, o personagem terá a voz do ator Aaron Pierre, visto na minissérie The Underground Railroad (2020) e no suspense Tempo (2021), de M. Night Shyamalan. A direção é de Barry Jenkins, realizador de The Underground Railroad e de Moonlight (2016), ganhador do Oscar de melhor filme.
O Rei Leão tem a mão de Jon Favreau, diretor que deu o pontapé inicial no Universo Cinematográfico Marvel — é dele Homem de Ferro (2008) — e que assinou a melhor das versões live-action da Disney: Mogli: O Menino Lobo (2016). Além de contar com uma boa adaptação da trama, um protagonista mirim encantador (Neel Sethi) e um elenco extraordinário de dubladores — Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Scarlett Johansson, Lupita Nyong'o... —, Mogli é um espetáculo do ponto de vista técnico. Não à toa, a exploração de novas tecnologias para a interação entre atores e personagens digitais recebeu o Oscar e o Bafta (prêmio da Academia Britânica) de efeitos visuais.
Em O Rei Leão, que teve um orçamento de US$ 250 milhões (contra os US$ 175 milhões de Mogli), Favreau foi mais radical no emprego da computação gráfica: nada existe na vida real, tudo foi criado digitalmente. A tentativa de dar ares de documentário naturalista é tão grande, que espectadores reclamaram da "falta de expressão" dos personagens. O filme concorreu ao Oscar de efeitos visuais, mas perdeu para 1917, de Sam Mendes.
Já em relação à história do leão que deverá vingar a morte de seu pai para se tornar o rei da savana africana, o cineasta foi bastante fiel aos eventos narrados pelos roteiristas Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton e pelos diretores Roger Allers e Rob Minkoff em O Rei Leão (1994), que arrecadou US$ 1,06 bilhão nas bilheterias e conquistou o Oscar nas categorias de melhor música, composta por Hans Zimmer, e canção original, com Can You Feel the Love Tonight, de Elton John e Tim Rice — dupla também indicada por Circle of Life e Hakuna Matata.
O que o script assinado por Jeff Nathanson faz é adicionar particularidades em momentos fundamentais e desenvolver mais alguns trechos. No primeiro caso, aumentou-se a agressividade de uma das cenas mais traumatizantes dos desenhos animados — na qual o invejoso tio Scar (no original, voz de Chiwetel Ejiofor no original, Rodrigo Miallaret na versão em português) mostra toda a sua maldade.
Um exemplo do segundo caso é o da epifania do sábio macaco Rafiki (em inglês, John Kani, o pai do Pantera Negra nos filmes da Marvel, na dublagem nacional, João Acaiabe) sobre Simba (Donald Glover/Ícaro Silva) estar vivo. Na animação de 1994, Rafiki era presenteado com o segredo pelo vento, em um lance mais místico. Na adaptação realista de 2019, fios da juba de Simba servem de material para o ninho das aves, passam pelo estômago de uma girafa ao se misturar com alimento, se transformam em dejeto, que é carregado por insetos até chegar às formigas, que carregam folhas e o pelo do leão até onde está o macaco.
Também se deu mais espaço para alguns personagens, como o javali Pumba (Seth Rogen/Glauco Marques), o suricato Timão (Billy Eichner/Ivan Parente) e a leoa Nala (Beyoncé no original, Iza em português). Por falar em Beyoncé, a cantora se envolveu tanto no projeto, que produziu um disco inteiro inspirado na obra. Nas suas palavras, The Lion King: The Gift é "uma carta de amor à África". O disco tgraz a participação de vários músicos daquele continente, como o nigeriano Burna Boy, Tiwa Savage e Wizkid, o ganês Shatta Wale, a sul-africana Busiswa e o camaronês Salatiel.