Adoro minisséries, porque permitem aos realizadores e aos atores desenvolver as histórias e os personagens sem tomarem demais do nosso tempo.
Se for minissérie policial, melhor ainda, pois tramas desse gênero se prestam muito para a geração de suspense ao final de cada episódio. Aliás, adoro quando são distribuídas à moda antiga, ou seja, com um capítulo por semana, dando espaço para o público elaborar teorias sobre os mistérios apresentados e respirar depois de um acontecimento de tirar o fôlego.
A lista de 10 desta sexta-feira (7) abaixo traz sugestões disponíveis no streaming, incluindo algumas que não assisti — e nem todas se restringem aos elementos policialescos. Escolha a sua para o fim de semana e clique nos links se quiser saber mais.
1) 12 Jurados (2019)
Falada em holandês, a minissérie belga gira em torno de Frie Palmers (Maaike Cafmeyer), mulher acusada de ter assassinado sua melhor amiga, em 2000, e sua própria filha, 16 anos depois. É uma série de tribunal, mas esse não é o único cenário da trama criada por Sanne Nuyens e Bert Van Dael. E 12 Jurados não se concentra apenas na investigação sobre os crimes: há múltiplos personagens e múltiplos enigmas. Enquanto depoimentos no julgamento e flashbacks reconstituem as circunstâncias das mortes de Brechtje Vindevogel, a melhor amiga, e Roos, a filha, descobrimos o passado de Frie e o papel desempenhado por seu ex-marido e pelo pai da primeira vítima, um ambientalista rico e famoso, somos apresentados aos dramas particulares de uma meia dúzia de jurados. Entre eles, estão a herdeira de um casal brutalmente assassinado, um fotógrafo que frequenta reuniões de viciados em sexo e um empreiteiro enrascado porque seu irmão e sócio contrata operários ilegais — inclusive um brasileiro. Mas talvez a grande personagem seja uma jurada substituta, Delphine (Maaike Neuville), mãe de três crianças e casada com um marido extremamente ciumento e abusivo. (10 episódios, Netflix)
2) Areia Movediça (2019)
Tem alguma semelhança com 12 Jurados. Também foca um julgamento de um crime chocante: a protagonista, Maja (pronuncia-se Maia), uma estudante do Ensino Médio, é acusada de participar de uma chacina em uma escola bacana de Estocolmo, na Suécia, onde, entre outras vítimas, foram mortos o namorado e a melhor amiga dela. Como na minissérie belga, a sueca alterna a narrativa entre o presente e o passado — quando surgem indícios tanto a favor quanto contra a personagem principal. Em meio a temas como bullying, xenofobia e relacionamentos abusivos, a trajetória de Maja é recuperada desde a aproximação com Sebastian, um garoto negligenciado pelo pai rico. Eis o pano de fundo, ou quem sabe a verdadeira questão de Areia Movediça: o que os adolescentes fazem longe do olhar de pais que não querem vê-los. (6 episódios, Netflix)
3) O Assassino de Valhalla (2019)
Inspirada em um caso real, a minissérie do islandês Thordur Palsson trata da caçada da polícia a um serial killer — o primeiro do país — que está desfigurando os olhos das vítimas. A policial Kata (Nína Dögg Filippusdóttir, de Trapped), que começa a investigar o caso, recebe ajuda de Arnar (Björn Thors), um competente detetive islandês residente em Oslo, na Noruega. O Assassino de Valhalla é representante do chamado noir nórdico, em que a paisagem gelada é quase um personagem, segredos terríveis vêm à tona e armas não são muito vistas. (8 episódios, Netflix)
4) Collateral (2018)
Indicada ao Oscar de melhor atriz por Bela Vingança (2020) e Educação (2009), protagonista de Não me Abandone Jamais e coadjuvante em Shame e Drive (ambos de 2011), Carey Mulligan, por si só, justifica assistir à minissérie inglesa escrita pelo renomado dramaturgo David Hare — por sua vez, concorrente à estatueta dourada de roteiro adaptado por As Horas e O Leitor. Mulligan interpreta Kip Glaspie, uma detetive designada para investigar o assassinato de um entregador de pizza que é baleado em um subúrbio de Londres. A partir daí, Hare lança mão de uma teia de personagens para discutir a atuação da polícia, do serviço secreto e do exército, o papel da Igreja e dos partidos políticos, o sistema de imigração e o caldo que levou ao Brexit. (4 episódios, Netflix)
5) O Homem das Castanhas (2021)
Não se deixe enganar pelo nome simpático: a minisssérie dinamarquesa baseada no romance homônimo de Soren Sveistrup (também autor das histórias da série The Killing e do filme Boneco de Neve) é um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios, Netflix)
6) Iluminadas (2022)
A parceria entre a atriz californiana Elisabeth Moss e o ator baiano Wagner Moura é um dos atrativos para a adaptação do romance de Lauren Beuker assinada por Silka Luisa. É uma mescla de suspense policial com ficção científica. Kirby, personagem de Moss, trabalha no arquivo do jornal Chicago Sun-Times. Anos após ser quase assassinada, ela ainda sente os efeitos do trauma, o que inclui aparentes lapsos de memória e uma percepção cambiante da realidade. Quando uma mulher aparece morta, Kirby, que nunca desistiu de procurar o homem que a atacou, mesmo quando a polícia e a imprensa não deram bola, percebe uma relação entre os dois casos e ajudará o repórter Dan Velazquez (Wagner Moura) a investigar o caso. (8 episódios, Apple TV+)
7) O Inocente (2021)
Oriol Paulo e Pablo Vallejo adaptaram para a Espanha um romance do escritor estadunidense Harlan Coben. Mario Casas interpreta Mateo Vidal, o Mat, estudante de Direito que, em uma briga de bar, mata acidentalmente um rapaz. Após quatro anos na prisão, ele reconstrói sua vida e reencontra a mulher que conhecera na festa após ser libertado, Olivia (Aura Garrido). Os dois se casam e estão para se tornarem pais, mas um belo dia ele recebe uma mensagem perturbadora enviada pelo celular dela. O que consta na mensagem? Qual é a relação entre Mat e uma freira que se suicidou em pleno orfanato? Por que o corpo dessa religiosa atrai a atenção da polícia federal? O que Olivia esconde quando se tranca no banheiro? Quem é Anibal? As tramas que correm em paralelo em O Inocente vão preenchendo o quebra-cabeças e reprisando os temas de Coben: o peso do passado e o preço dos segredos. (8 episódios, Netflix)
8) Mare of Easttown (2021)
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E — até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios, HBO Max)
9) The Night Of (2016)
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1. É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian.
Trata-se de um retrato minucioso e muito humano das delegacias de polícia, do sistema judicial e dos presídios estadunidenses. À trama de suspense — a certa altura não saberemos se Naz é uma ovelha ou um lobo —, adiciona conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. À excelência do roteiro e da direção, soma-se a do elenco. Ahmed ganhou o Emmy de melhor ator, categoria em que também competia John Turturro, no papel do advogado de porta de cadeia John Stone. Bill Camp concorreu a coadjuvante na pele do detetive Dennis Box, assim como Michael Kenneth Williams, que faz o presidiário Freddy Knight. Todos trazem uma série de nuances a seus personagens, aumentando o envolvimento do espectador com uma história por si só cheia de matizes sobre o certo e o errado, o bom e o mau, a justiça e a lei, as percepções e as evidências. (8 episódios, HBO Max)
10) Objetos Cortantes (2018)
Baseada em livro de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar, a minissérie Sharp Objects tem como protagonista a repórter policial Camille Preaker (Amy Adams), que volta à sua cidade natal para fazer a cobertura jornalística do assassinato de duas pré-adolescentes. Durante a investigação do caso, Camille, que acabou de sair de uma temporada numa clínica psiquiátrica, se identifica com as jovens vítimas e relembra fatos de seu passado para entender o quebra-cabeça psicológico que se apresenta à sua frente. Nesse processo, ela terá de confrontar seus traumas e o zelo exagerado da mãe, Adora (papel de Patricia Clarkson). A direção é do canadense Jean-Marc Vallé, dos filmes C.R.A.Z.Y. (2005) e Clube de Compras Dallas (2013), morto no final de 2021. (8 episódios, HBO Max)