Banjong Pisanthanakun, o tailandês diretor de A Médium (The Medium, 2021), em cartaz a partir desta quinta-feira (19) em sete cinemas de Porto Alegre, começou sua carreira assinando em parceria com Parkpoom Wangpoom o filme de terror Espíritos: A Morte Está a seu Lado (2004). Ali, contou a história de um fotógrafo que, após sua namorada atropelar uma jovem, passa a ver uma figura sombria nas imagens que registra. Esse título tem um dos finais mais arrepiantes do gênero, ganhou uma sequência em 2007 (pela mesma dupla) e, no ano seguinte, foi refilmado nos Estados Unidos.
Depois de participar das antologias 4Bia (2008) — um trocadilho em inglês com fobia — e Phobia 2 (2009), Pisanthanakun resolveu experimentar outros ares. Realizou uma comédia romântica, Hello Stranger (2010), e um drama romântico, One Day (2016), e entre uma coisa e outra mesclou terror, comédia e romance (Pee Mak, de 2013).
Em A Médium, a partir de um roteiro coescrito pelo seu habitual colaborador Chantavit Dhanasevi e pelo sul-coreano Na Hong-jin — diretor de O Caçador (2008) e O Lamento (2016) —, o cineasta tailandês faz outra mistura, agora a do horror com o documentário. Na trama, uma anônima e invisível equipe de filmagem está na região de Isan, na Tailândia, para conhecer a trajetória e acompanhar a rotina de uma xamã, Nim (interpretada por Sawanee Utoomma), que faz a ponte entre as pessoas da comunidade e o deuses em que acreditam. Mas tanto os entrevistadores quanto a entrevistada acabam tendo sua atenção desviada para o estranho comportamento da jovem sobrinha de Nim, Mink (Narilya Gulmongkolpech). Como os fãs de terror podem supor, o novo trabalho de Pisanthanakun enquadra-se em um já velho formato: o do found footage.
Esse tipo de produção lança mão de imagens supostamente reais — captadas de forma amadora, acidental ou profissional, em vídeos caseiros, por câmeras de segurança ou por destemidos cinegrafistas — encontradas ao acaso. O estilo se popularizou a partir do estrondoso sucesso de A Bruxa de Blair (1999), que custou US$ 60 mil e arrecadou US$ 140 milhões, mas seu precursor foi Holocausto Canibal (1980). Entre seus expoentes, vale citar as franquias Atividade Paranormal e REC, além de A Visita (2015), talvez um título subestimado de M. Night Shyamalan, e Host: Cuidado com Quem Chama (2020), já mais atualizado do ponto de vista tecnológico — simula as gravações de uma reunião via Zoom.
Apesar da competência do diretor de fotografia Naruphol Chokanapitak em forjar a surpresa do operador de câmera e de criar cenas poéticas, A Médium não traz inovações técnicas ou estéticas. E ainda reprisa um notório calcanhar de aquiles do found footage: exige enorme suspensão da descrença nas ocasiões em que os documentaristas poderiam estar fugindo ou intervindo.
Mas há um ponto em que A Médium se distingue — para pior. Em geral, os filmes found footage apostam em uma duração muito curta — REC (2007) tem 78 minutos, Atividade Paranormal (2007), 86, Creep (2014), 82, A Maldição da Freira (2018), 76, Host, míseros 65. Seus diretores entendem que, quanto menor o tempo, maior a chance de manter a audiência tensa, seja pela expectativa de que algo ruim vai acontecer, seja pela sucessão de sustos e maldades que não permite respiro.
Pisanthanakun estendeu demais seu falso documentário: são duas horas e 10 minutos. Passa bastante tempo até que, de fato, alguma coisa ruim aconteça. E depois disso o ritmo não chega a se acelerar. A história vai se arrastando até um desfecho deveras previsível, com raros momentos capazes de despertar medo ou fascínio. A Médium é um filme de terror que invoca o sono.