Entre os 15 semifinalistas do Oscar de melhor documentário, The Rescue (2021), em cartaz no Disney+, é um dos mais cotados, segundo as previsões de três sites especializados estadunidenses — Variety, IndieWire e GoldDerby —, para figurar na lista dos cinco concorrentes que será divulgada na terça-feira (8) pela Academia de Hollywood. A tripla aposta é um indicador do quanto este filme tem a oferecer mesmo para quem, entre junho e julho de 2018, acompanhou pela imprensa o resgate de um time de futebol juvenil tailandês em uma caverna submersa.
Assim escreveu o repórter Humberto Trezzi em GZH, no dia 10 de julho daquele ano: "E o mundo assistiu nesta terça-feira, pela segunda vez em uma década, ao milagre da terra devolver aqueles a quem tinha engolido. Agora, na Tailândia, onde 12 integrantes e o treinador de um time de futebol juvenil foram resgatados de uma caverna, que os mantinha ilhados e isolados havia 18 dias. Drama e mobilização equivalente, monitorada em tempo real, o planeta só vivenciou em 2010 no Chile, quando 33 mineiros foram retirados dois meses após o desmoronamento da mina de cobre onde trabalhavam".
O calvário de 12 meninos com idades entre 11 e 16 anos, integrantes do Wild Boars (Javalis), e do técnico assistente Ekkaphon Chanthawong, 25, teve início em 23 de junho. Depois de um treino, foram visitar a caverna Tham Luang, em Chiang Rai. Acabaram surpreendidos por uma chuva forte — ainda não havia começado a época das monções, quando o passeio fica impedido — que inundou parcialmente o local, bloqueando sua saída.
Produzido pela National Geographic, o filme é dirigido pelo casal estadunidense Jimmy Chin (que é filho de taiwaneses) e Elizabeth Chai Vasarhelyi (de pai húngaro e mãe chinesa). A dupla ganhou o Oscar de melhor documentário com Free Solo (2018), sobre a escalada sem cordas de Alex Honnold num famoso paredão de 975 metros, o El Capitán, situado no parque Yosemite, na Califórnia. (A propósito, Chin também é alpinista.)
Em The Rescue, eles enfrentaram dois desafios: como gerar novidade e tensão se — em que pese a morte de um mergulhador tailandês — o feliz final da história é globalmente conhecido? Como contar essa história sem a versão das crianças e do treinador (que negociaram os direitos de produção para uma série de ficção da Netflix)?
A primeira parte foi vencida graças ao acesso a 87 horas inéditas de gravações feitas pela Marinha da Tailândia. Essas imagens, que incluem momentos preocupantes ou comoventes de bastidores, foram combinadas a depoimentos, cenas de arquivo, reproduções de noticiários, reencenações e gráficos em computação gráfica. Em conjunto, o material editado em 107 minutos de documentário consegue provocar um estado de suspense e surpresa — tanto melhor se você não souber ou não lembrar dos detalhes.
Mas foi no segundo desafio que Chin e Vasarhelyi transformaram um limão em limonada.
Sem o ponto de vista dos sobreviventes e de seus familiares, os cineastas investiram nos heróis do resgate. Os homens que assumiram riscos em meio às passagens estreitíssimas e as águas muito turvas de Tham Luang. Gente como os britânicos Rick Stanton, hoje com 61 anos, um bombeiro aposentado, John Volanthen, 51, consultor de TI, e Josh Bratchley, 29, meteorologista, ou o australiano Richard Harris, 57, anestesista. Todos apaixonados por uma atividade considerada perigosa, o mergulho em caverna, mas que, como frisa um deles, não precisa ser praticada de forma perigosa. Após uma das primeiras exibições públicas de The Rescue, em Los Angeles, Jimmy Chin comentou:
— Trabalho com pessoas assim há 20 anos. Em mergulho de caverna ou escalada livre, os riscos são altos demais, não há espaço para erro. Isso atrai um certo tipo de gente, no geral pessoas incrivelmente inteligentes porque conseguem avaliar e calcular o risco num nível extraordinário. É como elas sobrevivem.
Stanton, Volanthen, Bratchley, Harris e outros mergulhadores atuaram como voluntários na Tailândia. Alguns voaram para lá no mesmo dia em que receberam a convocação. Em entrevista à jornalista Kathleen Rellihan, da Newsweek, os diretores falaram sobre o que classificaram como "um dos aspectos mais emocionantes dessa história": a dedicação de quem se dispôs a encarar perigos concretos e psicológicos porque, nas palavras de Vasarhelyi, "eram as únicas pessoas no mundo que poderiam ter uma chance de salvar as crianças".
— Esses caras não foram pagos para fazer isso — reforçou Chin. — Portanto, tomaram uma decisão moral e pessoal de fazer a coisa certa, mesmo tendo tudo a perder (sua reputação e, principalmente, sua consciência ficariam machucadas para sempre no caso de um fracasso). Isso realmente nos impressionou e acho que mostra o melhor potencial que todos nós temos, como seres humanos.
The Rescue não se apressa para reconstituir a operação de resgate em si. Na primeira impressão, pode até parecer que Chin e Vasarhelyi gastam tempo demais com a história pregressa dos mergulhadores — saberemos, por exemplo, que um tem dificuldade de relacionamento, outro sofria bullying, um terceiro é bastante apegado ao pai... Aos poucos a gente vai entendendo o sentido e, no final, o passado deles vem literalmente à tona.