Problemas de energia elétrica e dificuldade na vazão da água da chuva voltaram a testar o sistema de drenagem de Porto Alegre no intervalo de um mês. No primeiro dia de 2025, cenas observadas em 1º de dezembro, como ruas alagadas, bueiros extravasando e vias cobertas por lâminas de água, se repetiram na Capital, principalmente nas regiões central e do Quarto Distrito.
Assim como no evento do mês passado, a prefeitura elencou a falta de energia nas casas de bombas como um dos principais motivos que explicam a dificuldade em expulsar o aguaceiro que invadiu ruas da Capital. Além disso, embaraço no acionamento do sistema de emergência, com uso de geradores, também teve peso nesse processo, mesmo com novo contrato de ampliação do serviço, segundo o órgão.
Por outro lado, especialista ouvido pela reportagem de Zero Hora cita que é preciso um diagnóstico mais exato do sistema de drenagem para verificar se a rede está escoando com a melhor capacidade possível.
Problema nas casas de bombas
A falta de luz na rede que alimenta as casas de bombas voltou a ser citado para explicar a demora para drenar a água da cidade. No entanto, dificuldade em acionar geradores também afetou a resposta.
No temporal de dezembro, pelo menos cinco casas de bombas tiveram fornecimento interrompido. As unidades funcionaram via geradores, que limitam a vazão dos complexos. Na época, o Dmae informou que a prefeitura estava trabalhando com um novo contrato que previa 20 geradores fixos e 18 sob demanda. Portanto, um contrato de 38 geradores que pode ser aditado, inclusive, para chegar a 45.
Segundo o órgão, esse contrato foi assinado em novembro e os equipamentos instalados ao longo de dezembro. Atualmente, o sistema funciona com 19 equipamentos fixos, 17 sob demanda, ainda sendo possível ampliar para 45.
No evento de quarta-feira (1º), a falta de luz impactou 10 das 23 casas de bombas da cidade, segundo Bruno Vanuzzi, que assumirá como diretor-geral do Dmae, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
O Dmae voltou a citar falhas no fornecimento de energia elétrica como um dos principais pontos que explicam a dificuldade de escoamento.
No entanto, também foi registrado problema no sistema emergencial. Não houve o acionamento de geradores em algumas casas de bombas, segundo Vanuzzi. Como os equipamentos de apoio ainda não estão automatizados, era preciso fazer isso manualmente, o que não aconteceu em todas as estações.
Vanuzzi citou problema "na troca de informações entre as empresas", mas garantiu que o problema foi diagnosticado e será corrigido.
Rede de escoamento
A rapidez no acúmulo de água e a lentidão para recuo do aguaceiro em alguns pontos voltou a chamar atenção. O professor do Departamento de Hidromecânica e Hidrologia do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Dornelles afirma que possíveis obstruções na rede de drenagem também podem ter retardado o escoamento da água. O processo pode estar mais lento em comparação com eventos anteriores, mas um diagnóstico mais exato e a confirmação desse fato dependem de dados detalhados sobre como estão essas redes, segundo Dornelles:
— Como está a obstrução dessas redes? É preciso saber se elas estão de fato em boas condições. Porque não adianta ter a casa de bombas funcionando se a rede não conduz a água de forma adequada.
Por meio de nota, o diretor-geral adjunto do Dmae, Darcy Nunes dos Santos, afirmou que o sistema de drenagem não está apresentando demora maior no escoamento. Segundo o departamento, o atraso na resposta ao último evento ocorreu diante da falta de energia nas casas de bombas.
“A rede tem operado em nível satisfatório. Prova disso é que, quando casas de bombas são acionadas de modo correto, as águas acumuladas baixam em pouco tempo”, informou.
O diretor também destaca que a Capital tem um “déficit histórico no sistema de drenagem urbana, que demanda obras de grande porte para alcançar a capacidade necessária e suportar as chuvas intensas registradas desde junho de 2023”.
“Portanto, mesmo que o sistema funcionasse a pleno de sua capacidade, haveria acúmulos de águas nas ruas, embora menores. Sendo assim, o ocorrido na quarta-feira, é resultado tanto da insuficiência do sistema de drenagem, como da falta de energia que impediu a expulsão das águas de dentro dos bairros para fora da cidade”, pontuou Santos.
Possíveis soluções
Casas de bombas
O professor o IPH destaca que, no curto prazo, um dos primeiros passos é garantir que as casas de bomba funcionem durante os eventos críticos. Para isso, é necessário viabilizar a alimentação de energia de forma mais confiável, deixando o sistema menos vulnerável, de acordo com o especialista.
Segundo o Dmae, os quadros de Transferência Automática (QTAs), que permitirão o acionamento automático dos geradores em caso de oscilação da rede elétrica, começam a ser instalados na próxima semana.
Conversas com a CEEE Equatorial
O superintendente da Regional Norte da CEEE Equatorial, Sérgio Valinho, afirmou que a companhia fez um mapeamento junto ao Dmae das principais unidades de bombeamento da Capital e está intensificando a poda da arborização para mitigar o problema de danos na rede elétrica. Além disso, informou que foi apresentado ao Dmae, no ano passado, alternativas de obras que poderiam ser feitas para permitir uma segunda alimentação de energia na rede das principais unidades de bombeamento:
— Até o momento, ainda não tivemos esse retorno formal do Dmae em relação à aprovação dessas obras ou não, porque são obras que atendem exclusivamente o cliente Dmae. Então, ele precisa aprovar o orçamento apresentado e aí, sim, tem início o cronograma de execução.
Sobre as tratativas com a CEEE, o diretor-geral adjunto do Dmae afirmou que o departamento retomará o diálogo institucional com a empresa de energia "para a definição de um plano de trabalho mais assertivo, que possibilite mais estabilidade às operações de saneamento e o restabelecimento mais rápido dos serviços em caso de falha".
Santos também informou que a pasta retomou o estudo sobre dupla alimentação elétrica das casas de bombas para drenagem urbana e sistemas de fornecimento de água tratada.
Canais de drenagem
No médio prazo, o professor do IPH cita questões ligadas ao restante do sistema de escoamento e drenagem para melhor funcionamento do combate aos alagamentos:
— É preciso revisar essa rede, fazer um levantamento, ter uma transparência maior de como está a manutenção e recuperação da micro e macro drenagem, que destina essa água até as casas de bomba. E verificar também como estão as tampas herméticas. É um problema que a gente viu no evento anterior e viu agora outra vez, com as tampas dos condutos forçados não evitando o extravasamento de água.
Em dezembro, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, afirmou que uma licitação seria lançada no começo deste ano para recuperação das tampas que estão fragilizadas no conduto Álvaro Chaves. Naquela ocasião, a água jorrou no sistema. Segundo moradores da região, a cena voltou a ser registrada nesta semana.
Segundo o Dmae, a reforma do Conduto Álvaro Chaves está dentro do pacote das casas de bombas, com uma mesma empresa estudando as duas frentes. Esse processo será licitado ao longo de 2025. A primeira concorrência pública desse estudo foi lançada na última sexta-feira, contemplando quatro casas de bombas, segundo o órgão.
Outro ponto citado pelo professor do IPH é a verificação se imóveis e empreendimentos construídos na cidade estão com reservatórios de lote, trincheiras de infiltração e áreas permeáveis estão conforme o projetado e se a manutenção está em dia.
Limpeza da rede
Segundo o diretor-geral adjunto do Dmae, a cheia de maio afetou 510 quilômetros de tubulações, galerias, bocas de lobo e poços de visita. Desse total, 400 quilômetros foram normalizados via desobstrução por meio de supersugadores, segundo Santos. Atualmente, 20 equipes de limpeza seguem atuando na rede de drenagem, equipadas com caminhões hidrojato e/ou supersugadores, conforme o diretor.
Colaborou André Malinoski