O streaming tem suas vantagens, mas a experiência cinematográfica ainda é insubstituível.
A lista de 10 filmes deste fim de semana é dedicada a quem ama a magia da sala escura, ao público que não abre mão da imersão proporcionada pela combinação de tela grande, som de altíssima qualidade, ausência de distrações (fora um que outro espectador inconveniente) e nossa incapacidade de pausar, retroceder ou avançar a trama — fundamental para nos entregarmos.
A seleção de títulos em cartaz nos cinemas de Porto Alegre inclui um clássico de Charles Chaplin, a nova encarnação do Batman e quatro indicados ao Oscar. Clique nos links se quiser saber mais.
Batman (2022)
Com um trabalho fascinante de fotografia, design de produção e edição, o diretor Matt Reeves mistura terror, o cinema noir dos anos 1940, o filme de serial killer (como Seven e Zodíaco), o thriller político e até a dinâmica das duplas policiais. Na trama de quase três horas, Batman (Robert Pattinson) e o tenente Gordon (Jeffrey Wright) precisam caçar uma versão nada cômica do Charada (Paul Dano), que começou pelo prefeito uma matança em Gotham City. Zoë Kravitz encarna Selina Kyle, a Mulher-Gato, John Turturro é o mafioso Carmine Falcone, e Colin Farrell está irreconhecível como o Pinguim. Pattinson é um dos grandes destaques do filme: pálido e com um tom deprê, o ator foi uma escolha perfeita para a abordagem proposta por Reeves. Nela, o trauma de infância e a sede de vingança que deram origem ao Batman são sombras tão pesadas que anulam a existência de Bruce Wayne. (Cineflix Total, Cinemark Barra, Cinemark Ipiranga, Cinemark Wallig, Cinépolis João Pessoa, Espaço Bourbon Country, GNC Iguatemi, GNC Moinhos e GNC Praia de Belas. Sessões IMAX, legendadas, no Cinemark Wallig 8, às 17h40min e às 21h20min)
Belfast (2021)
É a principal estreia da semana. Com toques autobiográficos, a comédia dramática escrita e dirigida por Kenneth Branagh concorra a sete Oscar: melhor filme, direção, ator coadjuvante (Ciáran Hinds), atriz coadjuvante (Judi Dench), roteiro original, som e canção original (Down to Joy, com Van Morrison). Em 1969, pelos olhos de um menino de nove anos, Buddy (Jude Hill), acompanhamos o início de um conturbado, longo e sangrento período conhecido como The Troubles (Os Problemas). A Irlanda do Norte era palco de atos de violência. Em maioria, a população protestante queria preservar a união com a Grã-Bretanha — daí seus manifestantes serem chamados de unionistas. Em minoria, os católicos defendiam a independência ou a integração com a Irlanda. (Cine Grand Café, Cinemark Barra, Espaço Bourbon Country, GNC Iguatemi e GNC Moinhos)
Eduardo e Mônica (2022)
Depois de adaptar Faroeste Caboclo, em 2013, o diretor René Sampaio trouxe para o cinema mais uma canção da Legião Urbana. Esta é a história de como duas pessoas bastante diferentes — o adolescente Eduardo, que gostava de novela e jogava futebol de botão com seu avô, e a universitária Mônica, que curtia Bauhaus e Godard — se conheceram e se apaixonaram em Brasília na década de 1980. Se o hábil prólogo pode dar a ideia de uma mera comédia romântica, o que vem logo a seguir surpreende pela sintonia e pela sensibilidade do par central (Gabriel Leone, encantador, e Alice Braga, emprestando seu carisma). (Espaço Bourbon Country)
A Felicidade das Pequenas Coisas (2021)
Um dos cinco indicados ao Oscar de melhor filme internacional, este é apenas o segundo longa-metragem inscrito na premiação de Hollywood pelo Butão, minúsculo país asiático situado entre a China e a Índia — o anterior foi A Copa (1999). O título original é Lunana: A Yak in the Classroom, fazendo referência à remota região que serve de cenário para a comédia dramática do diretor estreante Pawo Choyning Dorji. A trama é sobre um jovem um pouco arrogante que não aguenta mais seu trabalho como professor de escola pública e sonha com o dia em que poderá largar tudo e ir para a Austrália. A maior aspiração de Ugyen Dorji (Sherhab Dorji) é tornar-se um cantor famoso. Mas antes de conseguir deixar a cidade onde mora — Timbu, a capital do Butão —, ele precisa terminar o contrato que tem com o governo e aceita o desafio de lecionar para crianças em um vilarejo distante com apenas 56 habitantes, nas proximidades do Himalaia e e acessível apenas a pé. (Cine Grand Café e Sala Eduardo Hirtz)
O Garoto (1921)
O primeiro longa-metragem dirigido e estrelado por Charles Chaplin é a atração da Sessão Vagalume deste final de semana, na Cinemateca Capitólio. São duas sessões, uma no sábado (12) e outra no domingo (13), ambas às 15h (com visitas guiadas ao espaço cultural às 14h). Os ingressos custam R$ 4 (R$ 2 a meia-entrada), com pagamento em dinheiro ou por pix, e a bilheteria abre uma hora antes da exibição. Na trama, o Vagabundo (também conhecido como Carlitos no Brasil) interpreta um andarilho que encontra um bebê abandonado. Decide criá-lo e, com o passar do tempo, ele e o menino (então vivido por Jackie Coogan) se envolvem nas mais diversas situações para sobreviver nas ruas de uma grande cidade. Essa obra universal teve como inspiração a própria infância de Chaplin, em Londres. Rejeitado pelo pai alcoólatra e após a mãe ser internada em um manicômio, teve que fugir da polícia para não ser levado a um orfanato.
— O Garoto é uma das maiores realizações de Chaplin. Passados 101 anos de sua estreia, segue encantado novas gerações de espectadores — comenta Marcus Mello, curador do Programa de Alfabetização Audiovisual da Cinemateca Capitólio. — Isso é algo muito raro e difícil de ser alcançado, especialmente se formos pensar que se trata de um filme mudo, em preto e branco, muito distante do universo altamente tecnológico do cinema contemporâneo, caracterizado por efeitos especiais cada vez mais sofisticados e ação frenética. O fato é que o humanismo de Chaplin, a concisão de seu cinema (O Garoto tem pouco mais de uma hora de duração), a sua habilidade em retratar relações humanas que são universais, a partir apenas do movimento e dos olhares de seus atores, são coisas que fazem com que o filme mantenha intacto o seu frescor e a sua capacidade de comunicação com diferentes públicos. (Cinemateca Capitólio. Informações pelos telefones (51) 3289-7458 e 3289-7453)
A Ilha de Bergman (2021)
Este é o único da lista que ainda não vi, mas a sinopse é sedutora para quem aprecia as obras de Ingmar Bergman (1918-2007): buscando inspiração para escrever os roteiros de seus próximos filmes, um casal de cineastas estadunidenses (personagens de Tim Roth e Vicky Krieps) empreende um retiro na ilha de Farö, no Mar Báltico, que serviu de morada para o gênio sueco e de cenário para títulos como Através de um Espelho (1961) e Persona (1966). Com o tempo, a realidade e a ficção começam a misturar-se naquela paisagem selvagem. A direção é da francesa Mia Hansen-Løve, de O que Está por Vir (2016). (Cine Grand Café, Espaço Bourbon Country e GNC Moinhos)
Licorice Pizza (2021)
O cineasta Paul Thomas Anderson é um habituê do Oscar. Antes de Licorice Pizza, pelo qual recebeu três indicações _ melhor filme (como um dos produtores), direção e roteiro original _, já havia concorrido por Boogie Nights (1997, roteiro original), Magnólia (1999, roteiro original), Sangue Negro (2007, filme, direção e roteiro adaptado), Vício Inerente (2014, roteiro adaptado) e Trama Fantasma (2017, filme e direção). Nesta comédia romântica, ele imprime um olhar nostálgico para a Califórnia de 1973, retratando o romance platônico entre um ator de 15 anos e uma mulher de 25 _ personagens interpretados pelos estreantes Cooper Hoffman e Alana Haim. (Cine Grand Café e GNC Moinhos 3)
Pequena Mamãe (2021)
Diretora de um dos mais lindos e arrebatadores títulos do século 21 (Retrato de uma Jovem em Chamas), a francesa Céline Sciamma apresenta aqui um pequeno grande filme. Pequeno porque dura apenas 70 minutos (transcorridos sem pressa nenhuma, como é característico da cineasta: sua câmera deixa que as coisas aconteçam, que os personagens sintam) e traz como protagonista uma menina de oito anos, que circula por poucos cenários. Grande porque, com uma mescla de economia narrativa e simbolismo sofisticado, trata de temas complexos e perenes: o luto, a infância, a memória. (Espaço Bourbon Country)
Sempre em Frente (2021)
Dirigido por Mike Mills, este é o filme que o ator Joaquin Phoenix fez para exorcizar Coringa (2019). Após sofrer física e psicologicamente para encarnar o atormentado Arthur Fleck, em Sempre em Frente ele vive uma história sobre empatia e esperança e até se permite ter uma pança. Seu personagem, Johnny, é um jornalista de rádio que está dando início a um novo projeto: entrevistar crianças e adolescentes de várias partes dos Estados Unidos para saber o que elas esperam do futuro (e também como se sentem no presente). A certa altura, Johnny terá de cuidar do sobrinho de nove anos, Jesse (Woody Norman, que concorre ao Bafta de ator coadjuvante), para que a mãe dele (Gaby Hoffman) possa resolver questões ligadas ao ex-marido e pai do garoto. (Cine Grand Café)
Spencer (2021)
Kristen Stewart recebeu sua primeira indicação ao Oscar — na categoria de melhor atriz — por esta cinebiografia não convencional assinada pelo chileno Pablo Larraín. O diretor transforma em filme de terror um final de semana da princesa Diana (1961-1997) com a família real britânica, no Natal de 1991. Stewart acha um equilíbrio na interpretação: tanto personifica a eterna Lady Di, incorporando seu jeito de falar, por exemplo, como empresta um tanto de sua própria personalidade para o papel. Em um primeiro momento, até pela diferença de altura entre a personagem real (1m78cm) e sua intérprete (1m65cm), é difícil se desvencilhar da ideia de que estamos vendo não apenas uma representação da chamada Princesa do Povo, mas, sim, a atriz californiana tentando mais uma vez se livrar do estigma da popularíssima saga adolescente Crepúsculo (2008-2012). Mas a certa altura essas duas mulheres se embaralham, e o que passamos a ver é uma Diana atormentada pelas tradições da realeza, pelo desamor de Charles, por seus problemas de saúde, por ser alvo constante da mídia e até por fantasmas. (GNC Moinhos)