A jornada de Eduardo e Mônica em busca de seu final feliz não foi fácil. Na clássica canção de Renato Russo, a dupla precisou superar as suas várias diferenças e enfrentar barras pesadas para ficar junta. A transição da música para o cinema, claro, não poderia ser diferente. Além de todos os desafios presentes na história do casal, conhecidos desde os anos 1980, os dois ainda precisaram encarar um problema bem recente: a pandemia.
O primeiro trailer do longa-metragem foi divulgado ainda em 2019 e a estreia deveria ocorrer no começo de 2020. Porém, devido à covid-19, o lançamento teve que ser adiado. Mas, como em toda história de amor que se preze, o encontro entre os protagonistas — que, neste caso, são os fãs e o filme que celebra a famosa música da Legião Urbana — tem que acontecer no final. Dois anos depois, a espera acabou e Eduardo e Mônica finalmente chega às telas do cinema nesta quinta (20).
Em entrevista para GZH, Alice Braga, que vive a Mônica no longa, contou que está envolvida com o projeto desde 2016, quando foi chamada para ser a protagonista. E, mesmo com as idas e vindas, um quase "não rolou", a frustração do adiamento e a ansiedade de, finalmente, poder entregar o trabalho para o público, ela comemora que a obra vai ser lançada neste momento.
— Acho que esse filme tem uma coisa de destino. Obviamente, a gente queria ter lançado em 2020. Estava tudo planejado. Mas veio a pandemia e acho que, por mais triste que tenha sido para a gente parar, esse é um filme que fala de amor, das diferenças, de encontro, de aceitação. Um filme para toda a família, um acalento. No Brasil que a gente está vivendo hoje, com esse governo tão duro, que não aceita o diferente, que preza a morte, espero que esse filme traga alegria e esperança para as pessoas — comenta a atriz.
Para o diretor René Sampaio, já conhecido pelos fãs da Legião Urbana por ter comandado a adaptação de Faroeste Caboclo, o sentimento de tristeza pelo adiamento do filme transformou-se em alegria e esperança:
— Talvez, seja o filme que consiga reconectar o Brasil inteiro com o seu próprio cinema em grande escala. Tivemos outros lançamentos importantes, mas esse é o filme que, pelo momento em que ele vai sair, pode trazer essa energia que o país precisa. Vai ser mais bonito ele sair agora pela missão que ele pode vir a cumprir.
Toca Legião!
A letra de Eduardo e Mônica tem uma pegada mais leve em comparação com outros sucessos da Legião. Com isso, o final feliz e até mesmo partes cômicas poderiam ser um convite para produzir uma comédia romântica formulaica, daquelas que são feitas às pencas no cinema nacional — e que fazem sucesso, diga-se de passagem. Porém, o roteiro, que teve cerca de 80 versões e foi assinado por Matheus Souza em parceria com Claudia Souto, Michele Frantz e Jéssica Candal, encontra a sua sintonia justamente ouvindo a música.
Transformando quatro minutos e meio em quase duas horas de projeção, a adaptação se mantém fiel à letra de Renato Russo, fazendo poucos ajustes para ser mais cinematográfica e, também, para se adequar aos seus protagonistas. Assim, ao contrário de Faroeste Caboclo, que teve várias liberdades criativas, Eduardo e Mônica mostra, praticamente, verso por verso da canção, mantendo-se divertido e, ao mesmo tempo, com o drama na medida certa.
Para Alice, embarcar nesse projeto foi, além de uma "honra", também uma volta ao passado — e que tem ligação com o Rio Grande do Sul:
— Na minha infância, quando eu ouvi pela primeira vez essa letra, foi com o Jorge Furtado. Minha mãe é amiga dele. Eu cresci com o Jorge, com os filhos dele, e eu lembro que a gente passava férias em Santa Catarina. E foi lá a primeira vez que eu me lembro de ter ouvido essa música. E eu estava com o Jorge e com o Pedro, o filho dele.
Essa declaração da atriz exemplifica a longevidade da canção, que vem sendo ouvida por gerações e conta com uma legião de fãs, que a conhecem de cabo a rabo. Por isso, a pressão para levar essa história para o cinema é maior — afinal, muitos estarão atentos para qualquer deslize.
— Eu sou o fã número 1 do meu universo. Então, eu faço para esse fã, mas com muita vontade de que os outros gostem — diz o cineasta, que já projeta levar mais uma canção de Renato Russo às telonas, formando, assim, uma trilogia.
Aceitação
Tal qual como na música, pouco sobra espaço para outros personagens no filme que não sejam Eduardo e Mônica — apesar de adaptação do avô do rapaz, um ex-militar conservador e com saudade da ditadura, vivido por Otávio Augusto, ter sido interessante. A dupla que dá nome ao longa concentra todos os holofotes e isso se deve muito às atuações magnéticas de Alice Braga e Gabriel Leone, que estão excelentes em cena e, facilmente, devem assumir na mente dos fãs a personificação da dupla que vivia, anteriormente, apenas nos versos da canção de Russo.
— O René queria muito que a Mônica fosse solar. Ela é diferente das outras personagens que eu faço, que são mais densas, mais drama, principalmente, depois de cinco anos em uma série (A Rainha do Sul) com uma personagem superpesada. E acho que a coisa do rock, desse jeito dela mais politizada, veio do próprio Renato, da década de 1980, de imaginar essa galera, dessa idade, nessa época, do Brasil desse jeito. Eu eu amei e quis me desafiar. Foi muito bom sair dessa zona de conforto — explica Alice.
Foi vivendo na Brasília da década em que o filme se passa, em um mundo que se conectava presencialmente e não através de redes sociais, uma época mais simples, digamos assim, que o diretor buscou inspiração para narrar esse romance, levando para as telas, também, pitadas de suas experiências pessoais. E tanto o cineasta quanto Alice são entusiastas da experiência de assistir ao filme no cinema para que, assim, o ano comece com o clima de aceitação e de amor.
— Uma delícia poder lançar um projeto como esse nesse momento, com o povo vacinado. Começar esse ano de eleição com um pouco de esperança, com alegria. Espero que as pessoas celebrem o cinema brasileiro, que é tão importante e precisa tanto de apoio e carinho — finaliza Alice.