Um festão de casamento, reunindo os amigos e a família, é o sonho de muita gente. E, mesmo que às vezes os convidados saiam falando mal depois, a celebração está entranhada no imaginário do brasileiro. Com Júlio (Rafael Portugal) e Daiana (Cacau Protásio) não seria diferente. O casal protagonista de Juntos e Enrolados, em cartaz nos cinemas, quer fazer aquele rega-bofe especial para afirmar para o mundo o quanto se ama — mas, claro, nem tudo sai como o esperado. Logo, o que era uma comemoração de união transforma-se em uma cerimônia para celebrar o divórcio.
É praticamente a dramatização do meme "começo de um sonho / deu tudo errado". Mas, antes da confusão que gera a reviravolta da comemoração, Júlio e Daiana são apresentados como personagens de um conto de fadas — com o toque de um humor que parece ter saído diretamente de esquetes do antigo Zorra Total, mas, mesmo assim, um conto de fadas. Quando ele, um "bombeiro hidráulico" (não chame de encanador!) decide se refrescar em uma piscina de um clube enquanto está prestando serviço, a sua falta de habilidade na natação faz com que precise ser resgatado pela bombeira militar Daiana. A partir daí, o romance avassalador surge.
Os dois, mesmo com empregos estáveis, vivem como boa parte dos brasileiros: com o dinheiro contado. Por isso, a primeira alternativa para celebrar o amor que sentem um pelo outro é o casamento civil. Mas quem já teve que ir até um cartório sabe que não existe qualquer glamour no local. Claro que a oficialização da união é frustrante e, por isso, eles se comprometem em realizar uma festança digna do relacionamento que têm. Para isso, cortam qualquer gasto sobressalente — às vezes, até da gasolina do carro, que volta e meia precisa ser empurrado — e começam e economizar. Afinal, realizar um sonho é caro.
Tudo isso, que ocupa quase a metade do filme, é apenas a introdução para que a trama principal aconteça: a festa de casamento que vira de divórcio. Porém, quando a história alcança o seu objetivo e começa a se desenvolver, ela perde força — principalmente, ao se considerar o motivo da virada: uma mensagem no celular de Júlio que podia ter sido explicada em segundos. Na sequência, a falta de confiança entre os noivos e o instinto de vingança despertam de um lugar que não havia sido explorado na primeira parte da produção, causando estranhamento, uma vez que o casal era perdidamente apaixonado.
Sem estereótipos
Juntos e Enrolados conseguiu a façanha de reunir um grande número de talentos da comédia que estão em alta no país. Além de Cacau Protásio, que segue há nove anos no elenco de Vai que Cola e, cada vez mais, firma-se como protagonista de produções do gênero no cinema, o casting ainda mergulha na internet, recrutando Portugal em seu primeiro papel principal, Evelyn Castro e Fábio de Luca — trio que, entre outras coisas, faz sucesso no Porta dos Fundos — e Leandro Ramos, do Choque de Cultura. Mas, além deles, os veteranos Berta Loran, Fafy Siqueira, Tony Tornado e Neusa Borges marcam presença; porém, com pouco espaço para brilhar. Marcos Pasquim, Emanuelle Araújo e Matheus Ceará fecham o time.
Comandados pelos diretores Eduardo Vaisman e Rodrigo Van der Put — este último responsável por produções do Porta dos Fundos, incluindo polêmicos especiais de Natal —, os talentos de Juntos e Enrolados se mostram preparados para fazer rir, desde que o material os favoreça. O que, infelizmente, acontece poucas vezes. Os destaques, além dos protagonistas, que demonstram ótima química, são Evelyn e De Luca. A dupla, que vive, respectivamente, a melhor amiga da noiva e o melhor amigo do noivo, é responsável por salvar a segunda metade da trama, que se perde ao inserir esquetes pouco inspiradas na projeção, incluindo um momento em que urina é servida no lugar de vinho.
Mesmo não conseguindo se desprender de um humor já desgastado, a história escrita a seis mãos por Claudio Torres Gonzaga, Rodrigo Goulart e Sabrina Garcia toma cuidado para não derrapar em estereótipos. Assim, não existem piadas a respeito da forma física das pessoas ou de suas origens. O casal protagonista é formado por um homem branco e uma mulher negra. E este relacionamento inter-racial é tratado com normalidade na trama, sem qualquer tipo de comentário por parte dos personagens — porque, afinal, é normal. E é Daiana a heroína que salva a vida de Júlio, fazendo uma inversão do clichê que dá o início ao amor. Além disso, o melhor amigo gay, aqui, é do noivo, e não da noiva.
E estes são apenas alguns detalhes de vários outros que vão ajudando a quebrar bases pré-estabelecidas para desenvolver uma comédia romântica nacional e, de maneira orgânica, vão aproximando o gênero da realidade da sociedade, sem precisar fazer, por exemplo, com que os personagens percam a dignidade apenas por serem pobres. Só faltou para Juntos e Enrolados olhar mais para os ótimos trabalhos feitos anteriormente pelo seu talentoso elenco e beber mais dessa fonte.