Esta segunda-feira (12) é dia de coluna em dose dupla. Primeiro, a partir da sugestão de um leitor, listei mais de 20 plataformas de streaming operantes no Brasil, os preços de suas assinaturas e os perfis de seus catálogos.
Agora é a hora de responder: quanto custaria para assinar todos eles? Sai mais caro ou mais barato do que manter o hábito de ir regularmente ao cinema?
Como eu já havia sinalizado, é impossível dar respostas peremptórias. Depende dos gostos de cada um e dos gastos que cada um se dispõe ou pode fazer.
O que dá para dizer é que, independentemente do custo (a conta final, pagando as mensalidades separadamente, nas modalidades padrão e sem descontos ou promoções, seria de R$ 391,50 mensais), não vale a pena assinar todos os serviços. Primeiro porque, acredito, ninguém no mundo teria tempo para usufruir de fato de tanto conteúdo. Segundo porque, como indicou a repetição de alguns filmes e seriados na coluna inicial, há uma significativa superposição entre plataformas.
Então, montei abaixo um cardápio com tudo o que eu gostaria de ter, de modo que atendesse àquela variedade do ponto de partida: ganhadores do Oscar e dos festivais de Berlim, Cannes e Veneza; superproduções de Hollywood e cinematografias asiáticas; desenhos animados para ver em família e dramas pesados para chorar no cantinho; o Cinema Novo brasileiro e o novo cinema brasileiro; as séries mais badaladas do momento e aquelas clássicas que merecem ser revisitadas; os documentários sobre crimes reais e as histórias verdadeiras que parecem ficção; séries que são obras-primas e seriados que estão sendo badalados.
As plataformas que formariam meu time dos sonhos seriam as 12 abaixo — se você entrou na conversa agora, clique aqui para saber um pouco do que cada uma oferece. Para poder comparar melhor com o cinema (leia logo abaixo), fiz duas simulações sobre o gasto mensal no pacote — em ambas, por sermos quatro pessoas em casa, optando pelo plano Multitela, no caso do HBO Max, e pelo Padrão, no da Netflix. A primeira com o preço cheio da mensalidade de cada serviço, e a segunda, usando o valor das assinaturas anuais, que têm desconto gordo na maior parte das vezes, e aproveitando combos.
Assinaturas mensais
- Amazon Prime Video: R$ 9,90
- Apple TV+: R$ 9,90
- Belas Artes à La Carte: R$ 9,90
- Disney+: R$ 27,90
- Filme Filme: R$ 7,50
- Globoplay: R$ 22,90
- HBO Max: R$ 27,90
- MUBI: R$ 27,90
- Netflix: R$ 32,90
- Reserva Imovision: R$ 24,50
- Supo Mungam Plus: R$ 23,90
- Telecine: R$ 37,90
Total: R$ 263 mensais
Planos anuais, promoções e combos
- Amazon Prime Video: R$ 7,72
- Apple TV+: R$ 9,90
- Belas Artes à La Carte: R$ 9,07
- Disney+: R$ 23,32
- Filme Filme: R$ 6,75
- Globoplay + Telecine: R$ 49,90
- HBO Max: R$ 13,95
- MUBI: R$ 16,90
- Netflix: R$ 32,90
- Reserva Imovision: R$ 17,64
- Supo Mungam Plus: R$ 16,50
Total: R$ 204,55 mensais
Se o teto orçamentário for de R$ 100 ou menos, daí o negócio é saber qual é sua praia favorita: os filmes do momento? Pela repercussão que gera, Netflix me parece indispensável, e o Disney+ atende bem os lados família e aventura — na soma, dá um pouco mais de R$ 56. Os clássicos e os autorais? Um pacote com Belas Artes, Filme Filme, MUBI e Reserva Imovision ou Supo Mungam sai em torno de R$ 50. As séries? Juntar HBO Max, que tem um catálogo primoroso, Globoplay, cheia de grandes produções brasileiras, e Apple TV+, que tem Ted Lasso, fica por menos de R$ 50. Um pouco de tudo? Amazon + Disney+ + MUBI custa menos de R$ 50.
E se é muito ou não, depende do quanto filmes e séries são essenciais para cada pessoa e do bolso dela. O propósito aqui era dar um preço e comparar com as idas ao cinema, sobretudo para aquele público que tinha isso como um programa sagrado antes de a pandemia fechar salas e assustar espectadores.
Evidentemente, o streaming não substitui a experiência de uma sala de cinema. Nem sua memória afetiva — muitos de nós temos histórias para contar sobre a emoção de ir pela primeira vez com a mãe e/ou o pai, a algazarra de sessões lotadas, o frio na barriga de encontros românticos. Por mais conforto e segurança (inclusive sanitária) que ofereça, a sala de casa não tem a magia da sala escura.
Perde-se a imersão proporcionada pela combinação de tela grande, som de altíssima qualidade, ausência de distrações (fora um que outro espectador inconveniente) e nossa incapacidade de pausar, retroceder ou avançar a trama — fundamental para nos entregarmos. Perde-se também a comunhão momentânea com um exército de estranhos, muito bem-vinda e eficiente em comédias, filmes de terror e dramas que fazem soluçar.
A pandemia atingiu em cheio o mercado. Há quem diga que os cinemas vão ficar restritos às superproduções, aos eventos de massa. Outros entendem o contrário, que se tornarão um circuito para os apreciadores dos chamados filmes de arte. Ou pode ser que, depois de todo mundo vacinado, tudo volte ao normal.
No meio das especulações, há questões objetivas.
A conta do cinema
Porto Alegre é o cenário de meus cálculos. A cidade tem 66 salas no total, sendo 62 em shoppings — ou seja, 94%. Por isso, me concentro nessa grande maioria, o que evita distorções na hora de estabelecer gastos médios. Falando nisso, vou olhar apenas para o preço do ingresso, sem levar em conta transporte, estacionamento, pipoca e afins (da mesma forma, a lista dos streamings despreza despesas com provedor de internet e energia elétrica). Também vou desconsiderar descontos que não são para todos, como os 50% para estudantes, idosos e, na rede GNC, titular e acompanhante do Clube do Assinante, ou promoções sazonais.
Antes de entrar no assunto dinheiro, vale refletir sobre a oferta. Novamente, de um ponto de vista matemático. Segundo a programação de cinema publicada no caderno Fíndi da Zero Hora deste sábado (10) e domingo (11), 31 das 62 salas — a metade certinha — estava exibindo Viúva Negra. Onze salas tinham em cartaz apenas Velozes e Furiosos 9. Portanto, somente dois filmes ocupavam 68% dos espaços. Os outros 32% eram disputados por 15 títulos, oito deles com só uma sessão.
Enquanto isso, quando, por exemplo, um A Mulher na Janela entra no catálogo da Netflix, não se torna onipresente — pelo menos fisicamente —, e eu continuo podendo assistir aos demais filmes nos mais diversos horários do dia.
Para falar de grana de uma forma prática e a mais universal possível, temos três personagens: o espectador solitário, o casal e a família (com dois adultos e duas crianças). Eles vivem três situações: cinema uma vez por semana, cinema duas vezes por semana e cinema três vezes por semana. E em duas modalidades: na primeira, fazendo o programa na sexta, no sábado ou no domingo; na segunda, optando pelos dias em que o ingresso é mais barato. Fiz médias, porque em algumas redes a quinta-feira já conta como fim de semana para efeito de preço; em outras, a sexta oferece um valor menor; e há cinemas com meia-entrada para todo mundo em determinados dias (está aí a sugestão para uma coluna!). O cálculo não considera exibições 3D e a única sala Imax de Porto Alegre, que cobram mais caro. Mas vale dizer que são diferenciais em relação ao streaming.
Dito isso, o ingresso no fim de semana fica entre R$ 24 e R$ 32. Vamos usar R$ 28 como média. O ingresso nos dias mais baratos varia muito: pode ser R$ 9, R$ 10 ou R$ 13, mas também R$ 18 ou R$ 24. Vamos usar R$ 14 como média — a metade do preço médio cheio. Em todos os cálculos, a multiplicação é por quatro semanas.
Espectador solitário
1x por semana
- No fim de semana: R$ 112 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 56 mensais
2x por semana
- No fim de semana: R$ 224 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 112 mensais
3x por semana
- No fim de semana: R$ 336 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 168 mensais
Casal
1x por semana
- No fim de semana: R$ 224 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 112 mensais
2x por semana
- No fim de semana: R$ 448 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 224 mensais
3x por semana
- No fim de semana: R$ 672 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 336 mensais
Família
Aqui é importante ressaltar que a simulação considera duas crianças, que pagam meia-entrada
1x por semana
- No fim de semana: R$ 336 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 168 mensais
2x por semana
- No fim de semana: R$ 672 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 336 mensais
3x por semana
- No fim de semana: R$ 1.008 mensais
- Nos dias mais baratos: R$ 504 mensais
Reforço que esses cálculos não incluem gastos com deslocamento e guloseimas, assim como, na parte do streaming, também ficaram de fora despesas domésticas com internet, luz e o próprio aparelho no qual filmes e séries são assistidos. Mas espero ter respondido à pergunta do leitor Antônio Constantine e ajudado outros que não abrem mão deste passatempo cultural que não é barato, mas alimenta muito nossa cabeça e nosso coração.