Se você quer aproveitar o feriado desta segunda-feira (15) para assistir a um filme novo, trago cinco dicas.
Duas estão em cartaz nos cinemas de Porto Alegre (e poderia ter uma terceira, Meu Fim. Seu Começo, mas ainda não vi este drama romântico alemão com toques de ficção científica em exibição no Espaço Bourbon Country).
Outras três opções são encontradas nas plataformas de streaming. Clique nos links se quiser saber mais.
Duna (2021)
A nova ficção científica do diretor franco-canadense Denis Villeneuve, o mesmo de A Chegada (2016) e de Blade Runner 2049 (2017), é um dos grandes eventos cinematográficos da era covid-19. Merece ser vista na tela grande da sala escura, com som alto e sem interrupções. É a adaptação de um clássico romance publicado em 1965 pelo escritor estadunidense Frank Herbert, que influenciou diretamente a saga Star Wars — quem só conhece Guerra nas Estrelas pode até se espantar com as semelhanças que encontrará em Duna. O livro já havia sido levado ao cinema em 1984, em um desastre dirigido por David Lynch — o autor de O Homem Elefante (1980) e de Cidade dos Sonhos (2001) disse que é seu único arrependimento na elogiada carreira.
O filme se passa no ano de 10.191, num futuro que se mistura com o arcaico. O imperador Shaddam Corrino IV comanda os planetas sob um sistema feudal, os combates corpo a corpo misturam espadas e campos de força. Temos naves espaciais que transportam multidões e helicópteros que se assemelham a insetos, edificações que remetem às pirâmides do Egito e gigantescos vermes que singram sob o deserto de Arrakis, o principal cenário. Em meio à ação, surgem, para reflexão, temas religiosos, político-econômicos e ecológicos. O protagonista, Paul Atreides (Timothée Chalamet), é o messias destinado a libertar os povos oprimidos por jogos de poder que espelham os efeitos do colonialismo, do imperialismo e do capitalismo predatório. As valiosas "especiarias", com utilidades tanto místicas quanto tecnológicas, aludem à maneira como exploramos os recursos naturais. (Em cartaz nos cinemas)
Finch (2021)
Tom Hanks, um cachorro felpudo, um robô falante e o fim do mundo. Finch pode até não dar em Oscar, mas não tem como dar errado.
O filme do diretor inglês Miguel Sapochnik traz Hanks no papel de um único ou raro sobrevivente de um evento apocalíptico. Em 2029, o relacionamento entre a Terra e o Sol esfriou, ou pior, esquentou de vez. A camada de ozônio virou um queijo suíço, como diz o protagonista, o engenheiro Finch Weinberg, e agora se expor por poucos segundos à radiação solar pode levar a uma morte dolorosa. Mas Finch já está morrendo, portanto, para evitar que seu vira-latas Goodyear fique sozinho, ele resolve criar um robô dotado de inteligência artificial e aparência vintage (voz e captura de movimentos de Caleb Landry Jones). (Apple TV+)
Identidade (2021)
Trata-se da adaptação de um romance publicado em 1929 pela escritora estadunidense Nella Larsen (Passing, no título original). É ambientado na Nova York dos anos 1920 e conta a história de duas mulheres que, depois de crescerem juntas, se reencontram na vida adulta: Irene se identifica como negra e está casada com um médico negro (que sonha em se mudar para o Brasil, um país onde, segundo ele, não há racismo); Clare se passa por branca e tem um marido rico e preconceituoso.
Cotado ao Oscar, Identidade concorre em cinco categorias do Gotham Awards, premiação destinada a produções com baixo orçamento (até US$ 35 milhões). Entre elas, melhor filme, atriz (Tessa Thompson, a Irene) e atriz coadjuvante (Ruth Negga, a Clare). O filme marca a estreia como diretora da atriz Rebecca Hall — ela própria neta de um homem negro que adotou a identidade branca e que criou os filhos como brancos. Amparada pela belíssima fotografia em preto e branco e por uma melancólica trilha sonora, Rebecca conduz a trama com uma delicadeza que não esconde as tensões — tanto as decorrentes do reencontro quanto as raciais, que permeiam as relações na sociedade dos EUA. (Netflix)
Marighella (2019)
O ator Wagner Moura assumiu um desafio e tanto na sua estreia como diretor: a cinebiografia do guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911-1969), que foi deputado federal pelo PCB e cofundador, em 1967, da Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo que praticava a oposição armada ao regime instaurado pelo golpe militar. O roteiro é baseado no livro Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo (2012), do jornalista Mário Magalhães. Protagonizado por Seu Jorge, o filme se concentra nos últimos anos de vida do protagonista, de 1964 a 1969, quando o comunista que chegou a ser definido como "o inimigo número 1 do Brasil" foi assassinado por policiais.
O recorte temporal atende a dois desejos do diretor. O primeiro era o de combater as narrativas que minimizam a truculência da ditadura — "Nosso filme vem para dizer que foi ruim, que foi horrível, que teve gente com coragem de enfrentar aquilo", disse Moura em entrevistas. O segundo era o de fazer uma obra popular, de comunicação direta com a faixa etária que forma a maioria das plateias, aquela dos 16 aos 24, 25, 26 anos. É por isso que os letreiros iniciais, que acompanham imagens da violenta repressão a manifestações pós-golpe, enfatizam a participação dos estudantes na resistência. É por isso que o elenco apresenta coadjuvantes como Bella (interpretada por Bella Camero) e Humberto (vivido por Humberto Carrão), que dão rosto à juventude revolucionária da época. É por isso que Marighella é tiro, porrada e bomba. (Em cartaz nos cinemas)
Shadow (2018)
O filme de Zhang Yimou é de 2018, mas só chegou ao Brasil em 2021. Realizador de Herói (2002), que concorreu ao Oscar de longa internacional, e O Clã das Adagas Voadoras (2004), o cineasta chinês faz, literalmente, chover com as mais assombrosas cenas de ação dos últimos tempos.
A história se passa na era dos Três Reinos (220-280 d.C). As intrigas palacianas dominam a primeira hora e envolvem romances proibidos, traições, desonras e a prática antiga de selecionar sósias para substituir integrantes da realeza ou das altas esferas do poder. Depois, Yimou oferece um espetáculo sem igual e praticamente incessante. Há ataques coletivos, emboscadas e lutas corpo a corpo, uso de espadas, flechas, lanças e outras armas mais criativas (não vou estragar a surpresa). Tão deslumbrante quanto a violência coreografada é a maneira como a editora Zhou Xiaolin ordena as cenas, intercalando duelos bem próximos e planos gerais, aumentando nossas expectativas e nossa aflição sobre o destino dos personagens. (Apple TV, Google Play e YouTube)