No dia 13 de novembro, sábado, o mundo do cinema vai comemorar os 50 anos de um filme que fez despontar um dos principais diretores de Hollywood: Encurralado (1971), de Steven Spielberg, disponível no Telecine, na Apple TV, no Google Play e no YouTube.
Após mostrar que era possível fazer cinema na TV — dirigiu episódios antológicos de seriados como Galeria do Terror e Columbo —, em 1971 Spielberg ganhou a chance de tocar um projeto mais ambicioso. Aos 24 anos, realizou em apenas 13 dias e com orçamento apertado um telefilme de 74 minutos, lançado pela ABC.
Na trama ambientada nas estradas da Califórnia, o motorista de um carro David Mann (interpretado por Dennis Weaver) é perseguido por um misterioso caminhão. O planejamento meticuloso e a precisão narrativa resultaram numa trama de alta tensão. O rosto do suposto condutor nunca aparece, o que amplia a angústia e o potencial mitológico de Encurralado, cujo título original é Duel, duelo — podemos dizer que se trata do embate do homem contra a máquina, ou do homem contra o diabo.
Mas o filme também pode ser uma crítica aos "valores suburbanos". No final da década de 1970, Spielberg declarou que o motorista alvo da fúria do caminhoneiro também é um típico representante "daquele cidadão dos Estados Unidos de classe média baixa isolado pela modernização suburbana", um homem "que nunca espera ser desafiado por qualquer coisa além de seu aparelho de televisão quebrar e ter que chamar o reparador". Há ainda as leituras de Encurralado como um exercício sobre paranoia, um estudo da masculinidade em crise e uma atualização da luta mítica de Davi e Golias, entre outras interpretações suscitadas por essa pequena joia do suspense.
— A experiência com a recepção a Encurralado me ensinou a pensar um pouco mais no abstrato — disse o cineasta certa vez. — Realmente me instruiu a não apenas olhar para algo e dizer: "Ok, todo mundo está fadado a ver esta foto a maneira como vejo esta foto. Veremos as mesmas cores, o mesmo céu e horizonte. Vamos interpretar exatamente da mesma forma". Aprendi muito cedo que ninguém nunca vê a mesma imagem da mesma maneira. É impossível.
Devido ao enorme sucesso de público e crítica, Encurralado ganhou mais 15 minutos para ser exibido nos cinemas. Sua repercussão abriu as portas para projetos maiores de Spielberg. Depois de lançar o policial Louca Escapada (1974), estrelado por Goldie Hawn e William Atherton, o diretor conquistaria de vez Hollywood com o clássico Tubarão (1975), em que novamente lidou com um duelo afeito a simbolismo (o homem versus a natureza, o humano versus o monstruoso, a ciência versus o negacionismo etc) e aprimorou as técnicas de suspense demonstradas em Encurralado — trabalhando muito mais com a sugestão da presença do que com a presença em si do predador marinho.
Prestes a completar 75 anos, em 18 de dezembro, Steven Spielberg já ganhou três Oscar — melhor filme e melhor diretor por A Lista de Schindler (1993) e direção por O Resgate do Soldado Ryan (1998) — e recebeu outras 14 indicações, três vezes em dobradinha: E.T. (1982), Munique (2005) e Lincoln (2012). Também se tornou o cineasta com mais filmes na lista dos cem melhores produzidos nos Estados Unidos segundo o American Film Institute. Na mais recente atualização, publicada em 2007, emplacou cinco: A Lista de Schindler (oitavo colocado), E.T. (24º), Tubarão (56º), Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981, 66º) e O Resgate do Soldado Ryan (71º).
O prestígio vem acompanhado do dinheiro. Spielberg é o diretor cujos filmes, somados, mais arrecadaram mundialmente: US$ 10,5 bilhões, à frente dos irmãos Russo, com US$ 6,8 bilhões (graças, sobretudo, às duas últimas aventuras dos Vingadores, Guerra Infinita e Ultimato). Seu carro-chefe é Jurassic Park (1993), curiosamente o único a ultrapassar a barreira do US$ 1 bilhão.
A reputação de campeão de bilheteria anda lado a lado com a versatilidade. Spielberg pode ir da aventura juvenil ao thriller político, do drama histórico à ficção científica. Comédia não é muito sua praia, mas já fez (1941: Uma Guerra Muito Louca, de 1979). E agora vai experimentar o musical. Está marcada para 9 de dezembro a estreia de Amor, Sublime Amor, sua versão para o musical da Broadway de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim que deu origem a um dos maiores vencedores do Oscar. Dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins em 1961, West Side Story (título original) ganhou 10 estatuetas, incluindo melhor filme, direção e atriz coadjuvante — Rita Moreno, que participa da nova adaptação, escrita por Tony Kushner e coreografada por Justin Peck.
O novo filme é estrelado por Ansel Elgort (de Baby Driver e O Pintassilgo) e a estreante Rachel Zegler. Eles interpretam os adolescentes Tony e Maria, que vivem um romance à la Romeu & Julieta em meio ao conflito entre duas gangues rivais nas ruas da Nova York dos anos 1950: os majoritariamente brancos Jets e os latinos Sharks — olha um tubarão na carreira de Spielberg de novo!