Clickbait, segundo uma das definições encontradas no Google, "é uma tática usada na internet para gerar tráfego online por meio de conteúdos enganosos ou sensacionalistas". O usuário é fisgado, mas não encontra exatamente o que a isca prometia. Clickbait, minissérie da Netflix em oito episódios que se tornou uma das atrações mais assistidas da plataforma nos últimos tempos (nos Estados Unidos, por exemplo, chegou a liderar o top 10 por duas semanas seguidas, entre agosto e setembro), faz jus ao nome.
O suspense foi criado por Tony Ayres, roteirista e produtor das obras australianas Glitch (2017-2019) e Estado Zero (2020), e Christian White, que coescreveu o filme de terror Relíquia Macabra (2020). Trata-se de uma história do tipo casca de cebola: a cada camada, descobrimos outra. (Portanto, para não estragar a experiência do espectador, este texto NÃO terá spoilers.)
Os oito capítulos giram em torno do desaparecimento do fisioterapeuta Nick Brewer (Adrian Grenier, de Entourage), em Oakland. Ele ressurge em um vídeo, como vítima de sequestro e alvo de ataques: cartazes dizem que Nick é um abusador sexual e que matou uma mulher. Quando o vídeo chegar a 5 milhões de visualizações, o personagem passará de sequestrado a defunto.
Cada episódio foca em uma pessoa do seu entorno: a irmã, Pia (Zoe Kazan, de A Balada de Buster Scruggs), o detetive Roshan Amiri (Phoenix Raei, de Estado Zero), a esposa, Sophie (Betty Gabriel, de Corra!)... Flashbacks ajudam a entender o que de fato aconteceu.
A estrutura mantém o interesse, e os temas ligados à nossa vida digital são pertinentes: a sanha pela tragédia, as fantasias e as ilusões, os rastros que deixamos.
Mas há muitos lances difíceis de engolir. Atritos lançados como — ora — iscas para o episódio seguinte são sufocados ou esquecidos, personagens com uma suposta importância desmancham-se no ar, policiais tomam decisões que agridem a inteligência do espectador, e a solução em si do mistério não só deixou a desejar: além de ser inverossímil além da conta, recorre a um clichê já um tanto anacrônico.
Como entretenimento, Clickbait até vale seu tempo, pelo menos até o momento em que passa a desafiar demais a lógica. Se você curtiu a premissa, ficam aqui duas dicas bem mais recompensadoras: o filme Buscando... (2018), de Aneesh Chaganty, e o documentário em três partes Don't F**k with Cats (2019), de Mark Lewis. Ambos também estão disponíveis na Netflix.