O filme que mais arrecadou dinheiro para a franquia Jurassic Park é a atração da faixa Campeões de Bilheteria deste domingo (4), às 15h50min, na RBS TV. Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) faturou US$ 1,67 bilhão, montante que o garante na sexta colocação no ranking geral encabeçado por Avatar (2009) - que por sua vez retomou de Vingadores: Ultimato (2019) a liderança após ser relançado na China. A ficção científica de James Cameron está com US$ 2,84 bilhões, contra US$ 2,97 bilhões dos heróis da Marvel.
Jurassic World marcou a retomada da franquia iniciada por Jurassic Park (1993), versão do diretor Steven Spielberg para um romance do escritor Michael Crichton. Na trama, o bilionário vivido por Richard Attenborough planeja criar um parque temático em uma ilha na América Central com diferentes espécies de dinossauros revividos por meio de engenharia genética. Visitam o fascinante lugar um paleontólogo (Sam Neill), uma paleobotânica (Laura Dern) e um matemático, que, juntamente com os netos do ricaço, vivem uma perigosa aventura quando um empregado sabotador faz os bichos escaparem. O filme fez US$ 1 bilhão nas bilheterias e ganhou três Oscar: som, efeitos sonoros e efeitos visuais, graças a uma combinação muito realista de computação gráfica e animatrônicos (bonecos mecânicos).
Depois vieram O Mundo Perdido (1997), também dirigido por Spielberg e com US$ 618,6 milhões arrecadados, e Jurassic Park 3 (2001), assinado por Joe Johnston e dono do pior desempenho, tanto de público (US$ 368,7 milhões) quanto de crítica (chegou a "concorrer" ao Framboesa de Ouro de pior sequência ou refilmagem). Após O Mundo dos Dinossauros, Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) também foi bem de grana, com US$ 1,3 bilhão. Em junho de 2022, estreia o terceiro segmento, Domínio, adiado em um ano por causa da pandemia de coronavírus, que atrasou sua produção.
Steven Spielberg está apenas na produção de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros. A direção coube a Colin Trevorrow, de Sem Segurança Nenhuma (2012) e O Livro de Henry (2017). A trama se passa 22 anos após a construção do parque original. Bryce Dallas Howard interpreta uma espécie de gerente, que precisa cuidar de dois sobrinhos (Ty Simpkins e Nick Robinson) em visita ao local justo no momento em que sua segurança entra em colapso. Chris Pratt (o Peter Quill de Guardiões da Galáxia) encarna o tratador amigo das feras. O elenco multicultural inclui o indiano Irrfan Khan (de Quem Quer Ser um Milionário?), o francês Omar Sy (de Intocáveis), o norte-americano de origem chinesa D.B. Wong e o japonês naturalizado norte-americano Brian Tee.
O que dizem os especialistas
À época da estreia de Jurassic World nos cinemas, eu conversei com quatro especialistas em dinossauros para saber o que havia de plausibilidade científica: os professores de Paleontologia Alexander Kellner, Rodrigo Santucci e Marco Brandalise de Andrade e o paleoartista Pedro Rodrigues Busana. Veja um resumo do que eles disseram:
Alexander Kellner: "Se eu fosse um menino de 10, 12 anos, teria pulado da cadeira e aplaudido em pé! Como eu já tenho meus 50 anos, fico sentado, de braços cruzados, com um senso mais crítico. Gostei sim, mas com ressalvas. Achei o filme piegas e com um pendor ao exagero. T-rex e raptors se unem pra derrotar o Indominus, o dino criado em laboratório. Essa colaboração não existe na natureza entre animais que estão no topo da cadeia alimentar. Duas espécies não se unem para derrotar ninguém, ainda mais quando uma (no caso, o T-rex), poderia se alimentar da outra (os raptores).
Sem querer ser cientista chato, há erros facilmente evitáveis que não mexeriam na trama. Você pode divertir e, ao mesmo tempo, passar uma informação científica acurada. Por exemplo: no filme, aviário é o nome do lugar onde ficam os pterossauros. Errado: pterossauro não era ave, mas um réptil voador. Será que, com um orçamento desse tamanho (cerca de US$ 150 milhões), não dava para contratar um paleontólogo para atuar como consultor? Qualquer aluno de Paleontologia teria corrigido esse erro".
Rodrigo Santucci: "Quando divulgaram o trailer, uma coisa me incomodara: puxa, demorou tanto para rolar uma nova história, e aí aparece um dinossauro transgênico, um dos protagonistas tentando domesticar um raptor... Fui com uma má impressão: eram ideias ruins. Mas acharam boas saídas para justificar as coisas, para que não ficassem esdrúxulas. É uma questão comercial, como diz um personagem: os visitantes do parque já estavam entediados de verem um T-rex se alimentando, um saurópodo fazendo suas coisas. O público precisa de uma novidade, faltava algo maior do que um dino, mais inteligente, mais ameaçador. Daí, surgiu o Indominus.
Se fosse um documentário, é óbvio que a gente ficaria pegando no pé. Mas, em ficção, tudo é válido. Não precisa existir compromisso científico. Por isso, não dou tanta bola para a polêmica das penas, ou da falta de penas. Hoje, sabemos que as plumas eram comuns, mas imagine ver um velocirraptor todo fofinho devorando pessoas? Tem uma frase no filme que é emblemática e que tira o poder de qualquer comentário desabonador: 'Todos os dinossauros aqui têm DNA de outra coisa, nenhum é original'".
Marco Brandalise de Andrade: "Parafraseando um personagem: 'Não há dinossauros em JW'. Na concepção original do escritor Michael Crichton, os dinos de Jurassic Park e Jurassic World são produto de engenharia genética. Todos são apenas falsificações. A premissa do parque temático de Crichton era: quanto mais real, melhor. O cinema foi por uma linha quanto maior, mais dentes, garras e espinhos, quanto mais mutações tiver a fera, melhor. Não é bem assim. Maior implica em mais peso e estresse mecânico sobre o esqueleto. Estudos em biomecânica determinaram que um T-rex não poderia correr e que, se o fizesse, o fêmur não aguentaria a pressão e se quebraria. O dino-monstro de JW precisaria de ossos muito robustos, diminuindo sua agilidade. Na vida real, seria um animal lento. E por que diabos todos os bichos têm de urrar quando abrem a boca? Cada animal tem seu som particular (de alerta, defensivos, de acasalamento etc), mas predadores caçando não ficam rugindo a torto e a direito.
Mas não faltam méritos ao filme. Quando apresenta a ideia de que animais de cativeiro podem se tornar mais agressivos que seus congêneres na natureza, acerta em cheio. Existem várias evidências, em zoológicos e centros de criação. Por exemplo: o professor Ivan Sazima, da Unicamp, trabalhou com jararacas em campo e laboratório. Em campo, elas tentavam o bote em apenas 20% das ocasiões em que eram confrontadas. Em cativeiro, esse número subia para acima de 80%. Chamamos isso de estresse de cativeiro".
Pedro Rodrigues Busana: "Para os leigos, trata-se de uma diversão honesta. Para os já fãs da franquia, será um prato cheio de ótimas referências aos filmes anteriores (de pequenos objetos à primorosa trilha sonora). Para os paleontólogos muito sensíveis, só lhes digo: não se deixem abater tanto pelos dinos sem penas. Vocês sabiam que seriam assim desde o começo. Tenham em mente que foi a versão deles sem penas de 1993 que, muito provavelmente, influenciou a escolha das suas carreiras de hoje. E pode ocorrer novamente com a geração de agora".