Tantas ruas por onde preciso andar… Mas esta, percorrida em um sábado de sol na capital gaúcha, é uma velha conhecida: a Venâncio Aires, traçada para esses roteirinhos que imitam o 36 Hours do New York Times (um dos últimos, de 1º de março, é sobre São Paulo!). A Venâncio é, na verdade, uma avenida, que nasceu com um nome pomposo no século 19 — Rua da Imperatriz. Começa na Praça Garibaldi e termina na Osvaldo Aranha, atravessando três bairros. Eu comecei meu périplo a partir da Osvaldo Aranha, próximo ao Pronto-Socorro, fui até o Restaurante Copacabana, na outra ponta, e voltei. É rua de comércio, de passagem, de ligação, mas eu estava em busca de lugares para parar. Vamos ao trajeto, o quarto em Porto Alegre:
1 - Comecei pelo café da manhã na Pink Velvet Bakery (número 757), instalada ali desde 2014 e repaginada no ano passado. A vitrine do balcão oferecia coisas lindas, mas optei por pancakes simples, com geleia e manteiga, acompanhadas por um café cortado. Bom mesmo foi poder ficar na mesa da janela e ver a vida passar com calma numa manhã de verão. E conferir o aconchegante ambiente com mesas compartilhadas e utensílios de cozinha que fazem a decoração na cor… pink. Aos sábados e domingos, tem brunch servido até as 14h no pequeno "jardim" entre as duas salas.
2 - Segui pela avenida, só observando as construções antigas, muitas ainda casas baixas. Apesar das duas pistas, as calçadas são ocupadas pelas pessoas que circulam por mercadinhos, restaurantes típicos de bairro, floriculturas, pelo comércio local. Dos prédios, que incluem o imponente Colégio Militar (com entrada pela José Bonifácio, na foto principal), gosto particularmente de dois, ambos nas esquinas da movimentada João Pessoa. Um hoje é ocupado pela Casa dos Conselhos Municipais de Porto Alegre, foi restaurado e reinaugurado em 2014 (e já está pichado). O outro é o antigo Cinema Avenida, da década de 1920, agora sede da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs). Muitos filmes eu vi por ali, mas não sei por que me marcou tanto Veludo Azul, de 1986, nos tempos de faculdade.
3 - As quadras seguintes, que levam da João Pessoa à Praça Garibaldi, são (bem) menos cuidadas, mas também interessantes. Um dos primeiros botecos que conheci na cidade está ali desde os anos 1960, o Pedrini (número 204). E a não menos tradicional Churrascaria Giovanaz — sempre com filas à porta nos sábados e domingos —, do tipo simples e honesta. Mais adiante, um outro clássico da gastronomia local, o Restaurante Copacabana, de 1939, refúgio certo do dia a dia e de comemorações especiais, bem em frente à Praça Garibaldi… A praça… Seria tão linda, e está tão descuidada. Ainda assim, feiras de final de semana se instalam nela, com comida de rua e bazar, mantendo o espaço mais vivo.
Havia chegado ao fim da avenida e a fome ainda não tinha batido. Fiz o caminho de volta (preciso, um dia, retornar ao Tablado Andaluz, onde costumava ver as apresentações de flamenco, no número 556).
Por que não aproveitar, então, para desviar e passar pela Feira Ecológica da Redenção? Fui! Já estava quase acabando, mas ainda deu tempo de comprar uvas, suco, flores…
E, carregada, voltei à Venâncio, não sem antes dar uma entrada no Mostarda Brechó, numa casa linda na esquina com a Vieira de Castro, que enche os olhos com seus objetos "ressignificados" — nesse dia, havia uma exposição bacana de fotos de Porto Alegre.
4 - Para encerrar, escolhi almoçar na Leiteria 639 (o mesmo número da rua!), que, àquela altura, ainda não estava lotada. É uma junção de restaurante, padaria, armazém, confeitaria, venda de produtos coloniais, aberta no final de 2017. Do cardápio, elegi o pancho uruguaio, com molho chimichurri e queijo gratinado. Quando chegou, me espantei com o tamanho (levei metade para casa). Também não resisti a uma focaccia que me espiava no balcão, perfeita para o happy hour.