Nesta seção criada semanas atrás (confira aqui o primeiro "Algumas horas em..."), inspirada no "36 horas", do jornal New York Times, a ideia é sugerir o que fazer quando se tem pouco tempo em uma cidade ou se faz um bate-volta. Agora, a dica é um passeio de algumas horas por uma região bem específica do centro de Porto Alegre: a Rua Duque de Caxias (da Rua Whashington Luiz, quase no Gasômetro, à Marechal Floriano Peixoto, onde abortei a última quadra por conta da chuva) e os arredores do Mercado Público, incluindo o próprio. É a segunda vez que faço o trajeto (quase) inteiro pela Duque, que já teve nomes extraoficiais como Formosa, Direita da Igreja, da Igreja, da Praia do Arsenal — até a atual catedral — e São José, Alegre, do Hospital — até a Praça do Portão (atual Conde de Porto Alegre).
Abaixo, o passeio feito dias atrás, na ordem dos números, entre 10h e 16h, num sábado de chove-para-chove-para.
1 — A caminhada começou quase junto ao Gasômetro. Como eu não tinha tomado café, não consegui esperar a abertura da confeitaria Nathalia Jahn (na esquina com Vasco Alves), um dos destinos planejados, e segui andando e observando prédios históricos lindos — uns mais cuidados, outros menos —, como o da Escola Técnica Ernesto Dornelles, até chegar ao La Tasca en el Centro. A padaria já é um clássico dessa região e serve brunch aos sábados, mas eu optei por croissant com manteiga e dividi uma torta de limão.
2 — Voltando umas casas atrás, com o perdão do trocadilho, a parada seguinte foi a Galeria Duque Espaço Cultural (no número 649) que tem no acervo obras de pintores consagrados, como Vasco Prado, Iberê Camargo, Vik Muniz, entre muitíssimos outros, e é, para mim, um pequeno oásis no Centro.
3 — O dia, é preciso dizer, não estava com a melhor cara do mundo. Por isso foi estratégico entrar na Livraria Padre Reus para comprar um... livro? Não, um guarda-chuva! Útil no início, ele seria jogado na sacola depois. Fechado o parêntese e o guarda-chuva, passei ao largo do Solar dos Câmara, da Pinacoteca Rubem Berta, do Palácio Farroupilha e do Piratini. Seriam pontos interessantíssimos para alguém que visite a cidade. Mas, infelizmente, no sábado todos fecham.
4 — Entre o Piratini e a Catedral Metropolitana, uma conferida na estátua de Leonel Brizola colocada ali em 2014 e que eu nunca tinha parado para observar com calma. É uma das raras esculturas públicas recentes que dá para se considerar bem-acabada, diante de tantas que já despertaram polêmica. E, como a porta estava aberta (não resisto à piada do cachorro!), uma entrada rápida na catedral, limpa e bem conservada como usualmente.
5 — Por outros dois pontos da sequência da rua também só ultrapassei: a Praça da Matriz, cheia de tapumes e grades, não convida para uma visita, assim como o Museu Julio de Castilhos, onde estive há não muito tempo e que achei malcuidado. Já era hora de mais um café (e quando não é?!) e ele foi sorvido quase à hora do almoço no Piatti Café & Bistrô (na esquina com a Espírito Santo).
6 — Caminhei a quadra seguinte, até o Viaduto Otávio Rocha, observando a fachada de prédios — uns em art déco, estilo arquitetônico marcante no centro da Capital, entre bem e malcuidados. Confesso que nunca tinha parado sobre o viaduto — o primeiro da cidade, da década de 1930 — para tirar fotos. Não era a única, apesar da cara fechada do sábado. É bonita a visão dali, mesmo sabendo que uma das faces mais tristes de Porto Alegre se mostra sob seus arcos, onde muita gente mora, fugindo do relento.
7 — Na esquina seguinte, quando a chuva apertou, resolvi abortar a última quadra da Duque e desci a Marechal Floriano para chegar à recém inaugurada loja da Lebes, no antigo prédio do Guaspari. No caminho (no número 474 da Marechal), uma paradinha na Boca do Disco, um sebo recheado de tantas raridades que mal dá para andar. Saí com um CD (sim, ainda compro, e era um álbum com cinco deles) do Miles Davis que tem servido de trilha musical para minhas leituras.
8 — Três quadras abaixo, alcancei o prédio da Lebes, no número 262 da Borges de Medeiros, em frente ao Mercado Público. Subi todos os andares a pé até o café localizado no 7º andar, com vista para o Guaíba, para a prefeitura, para o Mercado, e visitei o interessante memorial montado ali na inauguração (sobre o arquiteto espanhol Fernando Corona, responsável por este e outros prédios da década de 1930/1940 no Centro).
9 — Encerrei o passeio com outro clássico: um almoço prolongado (com uma espera de meia hora, já que não havia feito reserva) no Gambrinus, o restaurante mais antigo da cidade, de 1889. O risoto de camarão é sempre uma boa opção e serve, com fartura, duas pessoas.
Minhas seis horas entre a Duque e o Mercado garantiram um bom sábado. Repetirei, trilhando outras ruas de ponta a ponta.