Na minha segunda incursão para fazer pequenos recortes da Capital (inspirada no "36 Horas", do New York Times), o tempo de novo não colaborou. O sábado acordou mais do que garoento, mas eu não desisti. Meu destino era o Caminho dos Antiquários, no Centro Histórico de Porto Alegre, por onde não passeava a pé havia muito tempo. A feira montada na rua todos os sábados, das 10h às 15h30min _ na Praça Daltro Filho (aquela em frente ao Cine Capitólio, para ajudar a localizá-lo) e na última quadra da Rua Marechal Floriano Peixoto (entre as ruas Demétrio Ribeiro e Fernando Machado) –, ficou meio prejudicada e uns poucos expositores corajosos apareceram. Ainda assim, fiz um agradável passeio, olhando vitrines e entrando em algumas das mais de 20 lojas de antiguidades e brechós das redondezas. Saí bravamente sem comprar uma colherinha, o que é um feito, já que adoro objetos antigos, mas essa não era a intenção. Confira a sequência.
- Como fui de carro, estacionei em uma garagem da Rua Coronel Genuíno, em frente à praça, onde paguei R$ 18 por quase três horas. Dei uma olhadinha nas poucas banquinhas da praça e, como a chuva apertou, fui me abrigar nas marquises e nos toldos da Marechal Floriano. Acabei entrando para um expresso no Café Bistrô do Caminho (no número 766), que está ali há nada menos do que nove anos, mas eu não conhecia. É recheado de objetos antigos e da simpatia do Alex Ribas, que fez o cafezinho parecer um acontecimento. Segui o périplo pensando no cardápio que ele ofereceria no almoço...
- Próxima parada: a Cachaçaria Brix21 (número 705), um pouco mais recente, instalada ali há três anos. O dono, que estava no balcão, contou um pouco de sua trajetória pelo Rio Grande do Sul e por outros Estados (uma viagem de carro de muuuitos quilômetros) atrás de rótulos de alambique de qualidade. Fiz uma degustação de três deles e acabei saindo com uma cachaça para presentear: uma embalagem linda de porcelana da Velho Alambique, de Santa Teresa (RS), que eu, ignorante na bebida, nem sabia que existia.
- Dobrei na Fernando Machado para percorrer um pouco da rua perpendicular à Marechal. A degustação de cachaça havia aberto o apetite e me pareceu uma boa ideia entrar no Divina Piadina (no número 979, quase esquina com a Borges) para uma boquinha antes do almoço. Apesar de ter ido várias vezes à Itália e de conhecer um pouco da gastronomia daquele país, nunca tinha experimentado uma piadina. Nem sabia o que era, pra dizer a verdade. Adorei. Escolhi a de presunto cru com mussarela de búfala, tomates, rúcula e azeite de oliva. É comida de rua: uma espécie de massa de pão recheada, que se come à moda sanduíche. Mas pense em algo saboroso, leve... É típico da região da Emilia Romagna e, no Divina Piadina, feito por Federico Leoni, que aprimorou a técnica na Itália. Aliás, se quiser treinar o idioma, talvez seja um bom lugar. Das quatro mesas ocupadas, só a minha falava português.
- O almoço não poderia vir na sequência, depois dessa. Então, retomei a caminhada pela extensão da Fernando Machado onde, além dos antiquários, estão lado a lado bares e cafés como o La Cava (especializado em espumantes, só abre à noite), o Donna Laura (serve almoço vegano) e o Brechó do Futebol, que também vende camisetas e objetos relacionados a futebol, e onde, naquele dia, era organizada uma Oktoberfest na rua. Só caminhei ao largo. Também passei reto pela Power Discos (esquina da Fernando Machado com a André da Rocha), com sua sugestiva pintura na porta, mas fiquei com vontade de vasculhar LPs e CDs...
- Retornei à Marechal Floriano (ah, esqueci de comentar, lá no início, outra opção gastronômica da rua: a Tostaria, no número 709, de onde vinha um quase irresistível aroma de torradas). Como eu falei que tinha ficado com o cardápio do Bistrô do Caminho na cabeça, foi para lá que voltei. Comidinha caseiríssima (bife rolê, arroz, purê de batata/aipim e lentilhas) e gostosa. Ao encerrar o passeio, o sol chegou a aparecer, tímido. Mas como o horário era quase de encerramento da feira, nem deu tempo de as bancas serem montadas. Só pude bisbilhotar o pouco que havia na rua. Terei de voltar.
Duas notas negativas de minha incursão:
1 – Junto ao totem que indica o Caminho dos Antiquários, moradores da redondeza, imagino, haviam depositado sacos de lixo naquele dia. Um péssimo sinal para os visitantes.
2 – Bem que aquela quadra que é fechada, com casas antigas e lindas (umas restauradas, outras em más condições), poderia ter um investimento em fiação subterrânea. Os fios trançados na rua dão outra má impressão ao passeio.