
Se há um consenso no Rio Grande do Sul historicamente dividido é de que o Aeroporto Salgado Filho não pode ficar fechado até dezembro, prejudicando a economia e aumentando o isolamento de um Estado situado no garrão do Brasil. O problema começa quando, diante do silêncio da Fraport, concessionária que arrematou a concessão sob aplausos de empresários, políticos e usuários eventuais, os palpiteiros fazem ares de autoridade para propor soluções estapafúrdias, algumas até oportunistas.
Esta coluna, como sabem seus leitores, defendeu a concessão do Aeroporto Salgado Filho com a convicção de que se o poder público era incapaz de ampliar a pista para pousos e decolagens de aviões maiores, a iniciativa privada poderia fazê-lo. E aplaudiu quando a Fraport venceu o leilão, por se tratar da empresa que opera com muita competência um dos mais movimentados aeroportos do mundo, o de Frankfurt, entre outros na Europa e fora dela.
Desde que assumiu o Salgado Filho, a Fraport vinha fazendo um trabalho impecável: ampliou a pista (e só não o fez antes porque a prefeitura demorou para liberar a área ocupada ilegalmente por duas vilas), reformou o terminal, construiu um novo estacionamento, aumentou o conforto para os passageiros. Até a semana passada, não tínhamos do que reclamar. Então veio a enchente, e com ela, um alagamento sem precedentes.
Como todo o bairro Anchieta estava debaixo d’água, houve compreensão com o aeroporto fechado e a pista submersa. Mas o fato de a empresa não contratar bombas para escoar a água plantou a semente da desconfiança. A semente germinou e a desconfiança cresceu quando bombas cedidas por arrozeiros começaram a retirar água (2 mil litros por segundo) e as reuniões com a CEO da Fraport, Andrea Pal, traçaram o cenário da desesperança.
Foi a conversa de segunda-feira (3) que fez soar o alarme: ainda sem saber a extensão dos estragos na pista, a previsão de reabertura (na melhor das hipóteses) saltou para dezembro.
Andrea Pal tem se reunido com o ministro Paulo Pimenta (que se dispôs a liberar dinheiro antecipado para acelerar a reabertura) e com representantes do governo estadual. Todos questionam os prazos, apresentam sugestões, falam dos prejuízos para a economia do Estado. Ela responde que contratou a melhor empresa do mercado para fazer o diagnóstico da pista, que não tem como esse estudo ficar pronto antes de 15 de julho, que o problema não é dinheiro.
A CEO da Fraport abriu as portas do Porto Alegre Airport para que jornalistas e autoridades verificassem os estragos visíveis, mas tem evitado entrevistas. Imaginem, senhoras e senhores, o que estariam dizendo os empresários, os jornalistas e a população em geral se o aeroporto estivesse sob responsabilidade da Infraero (ou do governo do Estado, como são os de Passo Fundo e Santo Ângelo), e o responsável se negasse a dar entrevistas. Provavelmente, estariam (estaríamos) defendendo a privatização.