
O que deveria importar na viagem do presidente Lula à Rússia e a China são os negócios que ele amarrou ou confirmou para o Brasil e isso terá de ficar claro no balanço desse roteiro marcado pela controvérsia desde antes do embarque. A maioria das críticas não está focada nos encontros de Lula com Vladimir Putin e outros líderes de biografia duvidosa para comemorar o Dia da Vitória (contra o nazismo) nem na visita à China, maior parceiro comercial do Brasil.
O alvo principal é a primeira-dama Janja da Silva, que viajou quatro dias antes de Lula para visitar pontos turísticos e culturais de Moscou e São Petesburgo.
Janja poderia ter viajado com Lula, mas embarcou antes, a convite do governo russo tratar de questões culturais e apresentar a Aliança Global Contra a Fome, idealizada no período em que o presidente brasileiro esteve no comando do G-20. Janja, segundo a agenda oficial, visitou o Kremlin, assistiu ao Balé Bolshoi, teve reunião com a comunidade brasileira e com professores de português e visitou a São Petesburgo de Ana Karênina.
A viagem deu margem para a boataria espalhada por uma turma que ama odiar a primeira-dama e ofendê-la com apelidos jocosos. O que mais se leu nas redes sociais foi que ela requisitou um avião da FAB para a viagem e foi sozinha (ou com um grupo de assessores) em um Airbus C-30 de 242 lugares. E a pior das mentiras espalhadas por quem quer ver o circo pegar foto: ela teria viajado levando dezenas de malas de dinheiro.
Se a comunicação do governo fosse mais atenta, teria esclarecido desde o início que esse avião cruzaria o Atlântico de qualquer maneira, com Janja ou sem Janja. Ela pegou carona com a equipe que em todas a viagens faz o trabalho chamado de “precursoria”. É uma equipe que inclui funcionários do cerimonial da Presidência, da segurança e de outras áreas, conforme a agenda.
O Planalto também deveria dar transparência aos gastos de Janja, mostrando extrato do cartão corporativo, para deixar claro quanto custam suas viagens para os cofres públicos, excluído o avião, que iria de qualquer forma. Esse avião é usado como reserva para o retorno, caso o principal tenha algum problema.
Entra governo e sai governo e os gastos com o cartão corporativo seguem cercados de sigilo, em nome da segurança nacional. Ora, no que afeta a segurança nacional saber quanto gasta a primeira-dama em hotéis ou restaurantes? Melhor dar transparência do que deixar margem para os boatos que prejudicam a imagem do governo porque são tratados como verdade pelos adversários.