Verborrágicos na hora de planejar um golpe para impedir que o resultado da eleição de 2022 fosse respeitado, os principais conspiradores optaram pelo silêncio diante do medo de caírem em contradição no depoimento à Polícia Federal. Foi uma avaliação dos riscos de sinistro: melhor deixar passar a ideia de que quem cala consente do que sustentar uma versão e ela ser desmentida por outro personagem interrogado em outra dependência.
Proibidos pelo ministro Alexandre de Moraes de se encontrarem, para evitar que combinassem versões, o ex-presidente Jair Bolsonaro e os militares que o acompanharam na delirante preparação de um golpe, em 2022, não precisaram mandar sinais de fumaça. Foi tudo público: Bolsonaro avisou que só falaria se tivesse acesso a todos os detalhes da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid e do conteúdo dos equipamentos apreendidos.
Os generais e seus subalternos entenderam o recado e fizeram o mesmo. Nem era preciso avisar, porque antes a OAB interveio e caiu a proibição de os advogados conversarem entre eles.
Mesmo cientes de que o silêncio poderá ser usado contra eles em um futuro julgamento, Bolsonaro e seus companheiros de aventura fracassada preferiram o silêncio. Não foram os primeiros, nem serão os últimos. Em abril de 2019, no bojo da Operação Lava-Jato, Lula foi chamado à Polícia Federal para explicar as suspeitas de superfaturamento na compra de sondas pelas Petrobras. Pediu acesso ao inquérito, mas, como não obteve, silenciou. Foi criticado, naturalmente, e o silêncio interpretado como confissão de culpa.
Nas CPIs, a estratégia do silêncio é recorrente, mas todo mundo sabe que são comissões políticas. Como são transmitidas pela TV, os perguntadores exibem-se para as câmeras, enquanto os depoentes repetem à exaustão a frase "eu me reservo o direito de ficar calado".
No episódio desta quinta-feira (22), um dos investigados quebrou a corrente: o presidente Valdemar da Costa Neto. Com longos anos de prática em interrogatórios, porque volta e meia está no centro de um escândalo, Costa Neto falou. Segundo seu advogado, respondeu a tudo o que lhe foi perguntado.
Detalhe: em 2022 ele questionou as urnas eletrônicas, fez requerimentos, discursou, mas não participou da reunião ministerial de julho, aquela em que o general Augusto Heleno falou em virar a mesa antes da eleição e Bolsonaro previu o caos se perdesse a eleição.