O depoimento previsto para quinta-feira (22) será o sexto de Jair Bolsonaro à Polícia Federal (PF) desde que deixou a presidência da República. Nas últimas ocasiões, ele se recusou a responder aos questionamentos dos investigadores. Embora tenha dito publicamente que nada tem a esconder, o silêncio do ex-presidente é estratégico, e tem relação direta com as dúvidas sobre o que foi revelado na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e um de seus assessores mais próximos.
Advogado de Bolsonaro, o criminalista Paulo Amador da Cunha Bueno é um dos mais experientes do país. Ele confirma que o ex-presidente deverá comparecer ao novo depoimento, mas até agora não esclareceu se ele responderá às perguntas.
Com novos documentos em mãos, a PF tem uma lista de questões a esclarecer sobre o suposto planejamento de um golpe de Estado. Nem todas as informações em posse dos investigadores já são públicas. No que foi divulgado, há dúvidas, por exemplo, sobre colocar em prática um "plano B" antes das eleições de 2022, além de cobrar ministros e chefes das Forças Armadas a assinarem uma nota conjunta justificando que o resultado das urnas poderia não ser reconhecido.
O vídeo da reunião em que essas e outras declarações foram feitas foi encontrado pela PF nos arquivos de Mauro Cid. O registro deixa claro que muitos participantes da reunião acreditaram que ela não estava sendo gravada. Em outros momentos, Bolsonaro pediu que informações delicadas fossem tratadas em encontros mais reservados.
Nas primeiras vezes em que foi convocado pela PF, Bolsonaro depôs sobre as suspeitas de fraude em cartão de vacina, o planejamento dos protestos de 08 de janeiro e sobre as acusações do senador Marcos do Val envolvendo golpe de Estado. O comportamento mudou e o ex-presidente ficou em silêncio nas últimas duas convocações, que ocorreram após Mauro Cid iniciar as tratativas para o acordo de delação.
Bolsonaro se recusou a responder aos questionamentos quando foi chamado a falar sobre as suspeitas de venda ilegal de joias do acervo da presidência e acerca de mensagens em tom golpista trocadas com um empresário.
Pela relação estreita de confiança que manteve com o ex-presidente, Mauro Cid teve acesso a muitos detalhes sobre a trama golpista. Por isso, as dúvidas sobre o que ele pode ter revelado e que provas entregou à PF podem levar Bolsonaro a ficar em silêncio novamente, evitando contradições ou qualquer outra maneira de incriminá-lo.