A investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado — com operação deflagrada nesta quinta-feira (8), tendo como alvos o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados — tem por base a delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência tenente-coronel Mauro Cid.
Cid teria afirmado, em colaboração com a polícia aceita em setembro de 2023, que o ex-presidente se reuniu com os chefes das Forças Armadas para discutir a possibilidade de intervenção militar após a derrota dele na tentativa de reeleição, em 2022.
A operação desta quinta cumpre quatro mandados de prisão e 33 de busca e apreensão, além de 48 medidas cautelares, como proibição de manter contato com os demais investigados, suspensão do exercício de funções públicas e proibição de deixar o país. A ordem judicial contra Bolsonaro prevê a apreensão do passaporte, impedindo-o de sair do Brasil.
Também são alvos aliados do ex-presidente, como Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres e Valdemar Costa Neto. Os ex-assessores de Bolsonaro Marcelo Câmara e Filipe Martins foram presos.
De acordo com informações da PF, o Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de parte dos mandados.
As ordens são cumpridas em 11 Estados: Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
A operação
Nesta etapa da operação, a PF aponta que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar desinformação sobre supostas fraudes nas eleições de 2022. Essa atuação teria começado ainda antes do pleito, com o suposto objetivo de "viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
Segundo a PF, o primeiro eixo de atuação do grupo consistiu na construção e propagação de informação falaciosa sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação. O discurso foi reiterado pelos investigados desde 2019 e persistiu mesmo após os resultados do segundo turno de 2022. Essas afirmações também faziam parte dos discursos do próprio ex-presidente Bolsonaro, e pesaram na decisão do Tribunal Superior Eleitoral que levou à sua inelegibilidade em 2023.
A partir da disseminação da desinformação, o grupo também teria praticado "atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível", conforme informado pela Polícia Federal.
A investigação apura os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.