Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou, em delação premiada, que o ex-presidente teria se reunido, no ano passado, com a cúpula das Forças Armadas e com ministros da ala militar para discutir detalhes de uma minuta que supostamente abriria possibilidade para uma intervenção militar no país. A informação foi publicada nesta quinta-feira (21) pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
Conforme a jornalista, a informação já chegou ao conhecimento da atual chefia das Forças Armadas. Se tivesse sido colocado em prática, o suposto plano impediria a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ainda segundo a colunista, Cid relatou que ele próprio foi um dos participantes de uma reunião em que uma minuta de golpe teria sido debatida entre os militares. O ex-ajudante de ordens afirmou que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Já o comando do Exército teria afirmado, naquela ocasião, que não embarcaria no suposto plano golpista.
De acordo com a jornalista Bela Megale, é grande a preocupação entre os militares sobre os efeitos que o relato de Cid pode ter, principalmente por envolver membros da cúpula das Forças Armadas e ministros que, apesar de estarem na reserva, foram generais de alta patente. Contudo, para que os fatos sejam validados e as pessoas citadas sejam eventualmente responsabilizadas, é preciso que haja provas que corroborem as informações delatas.
Delação homologada
Em 9 de setembro, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de delação premiada de Mauro Cid. Na ocasião, o magistrado também concedeu liberdade provisória ao militar — que, no mesmo dia, deixou o Batalhão da Polícia do Exército.
Mauro Cid estava preso desde maio, quando foi alvo da Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos nos sistemas do SUS para emissão de carteiras de vacinação fraudadas em nome de Bolsonaro e de outras pessoas. Ele também é suspeito de participar da tentativa de trazer de maneira irregular para o Brasil joias — avaliadas em R$ 16,5 milhões — recebidas pelo governo como presente da Arábia Saudita, além de:
- tentar vender ilegalmente presentes dados ao governo Bolsonaro por delegações estrangeiras em viagens oficiais
- envolvimento nas tratativas sobre possível invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo hacker Walter Delgatti Neto, para desacreditar o sistema judiciário brasileiro
- envolvimento em tratativas sobre um possível golpe de Estado