Em depoimento à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, vai dizer às autoridades que foi Bolsonaro quem ordenou, na última semana do ano passado, que ele tomasse as medidas necessárias para reaver o conjunto de diamantes apreendido pela Receita Federal, em Guarulhos. O depoimento está marcado para quarta-feira (5), mesma data prevista para o testemunho de Bolsonaro.
O Estadão apurou que Cid tem reafirmado estes fatos a interlocutores e que o relato foi repassado ao advogado que o tenente-coronel contratou para defendê-lo no caso. A argumentação do militar é de que não haveria, inclusive, outra forma desta determinação ter chegado a ele, senão pelo próprio presidente. Procurado pela reportagem, ele não quis falar sobre o assunto.
Após receber a ordem de Bolsonaro, Cid encaminhou um ofício ao então chefe da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, em 28 de dezembro do ano passado, para que fosse feita a "incorporação de bens apreendidos". É este ofício que o então servidor da Ajudância de Ordens do Presidente da República, Jairo Moreira da Silva, apresentou na tela de seu celular para o fiscal da Receita, em Guarulhos, na tentativa de pegar as joias que, como disse o ex-ministro Bento Albuquerque, eram para Michelle Bolsonaro.
Primeiro-sargento da Marinha, Jairo Moreira da Silva explicou que tinha chegado no voo da Força Aérea Brasileira (FAB) naquele dia, para "atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade". Naquela ocasião, Jairo ainda acionaria, por telefone, o próprio chefe da Receita, Julio Cesar, mas não teria êxito, devido à resistência do auditor fiscal, que insistiu no cumprimento da lei e em demonstrar que aquele ato era ilegal.
A defesa de Mauro Cid é feita pelo criminalista Rodrigo Roca, que também advoga para o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Além de fazer a defesa de Cid no caso das joias, Roca atua nos demais processos que envolvem o tenente-coronel e que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).
Depois de emitir o despacho para que o militar Jairo Moreira da Silva pegasse um voo da FAB e fosse até Guarulhos, Mauro Cid deu encaminhamento para que se adiantasse o cadastro das joias retidas no sistema no Palácio do Planalto, como sendo itens que iriam para o acervo pessoal de Bolsonaro. Esse cadastro chegou a ser feito, como relatou a servidora pública Priscila Esteves das Chagas, à Polícia Federal. Com a tentativa frustrada de reaver as joias, porém, os dados foram excluídos do sistema, conforme reconheceu uma servidora do departamento responsável pelo cadastramento, em depoimento à PF.
Bolsonaro tem afirmado que nunca teve conhecimento das joias sauditas e que não determinou envio de avião da FAB para reaver as joias apreendidas e estimadas em cerca de R$ 16,5 milhões. Desde o dia 3 de março, quando o caso foi revelado, dois estojos de joias avaliados em pelo menos R$ 1,5 milhão já foram devolvidos pelo ex-presidente, após estes casos também virem à tona.