Um dos alvos da operação da Polícia Federal (PF) que apura um planejamento de golpe de Estado no Brasil, o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto atuava como assistente do comandante militar do Sul na época em que, segundo as investigações, se envolveu diretamente na trama. Lotado em Porto Alegre, ele teria utilizado a influência junto a outros oficiais com quem se relacionou durante a carreira para organizar uma reunião em Brasília e a execução do golpe.
Na função de assessor, o coronel atuava em 2022 junto ao então comandante militar do Sul, o general Fernando Soares – atualmente chefe do Estado-Maior do Exército. Nos documentos em que a PF descreveu a atuação do oficial, no entanto, não há qualquer menção à participação do general no esquema.
Após a tentativa de rompimento institucional dar errado, Correa Neto foi deslocado para uma missão nos Estados Unidos, onde permaneceria até 2025. No último domingo (11), ele precisou retornar após ter a prisão preventiva decretada. A saída do país foi interpretada pela PF como uma forma de “se furtar ao alcance das investigações e, consequentemente, da aplicação da lei penal, mantendo-se atualmente nesta condição”.
No embasamento do pedido de prisão, os investigadores identificaram o coronel como “homem de confiança" do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Membro, na classificação da PF, do chamado “Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas”, Correa Neto atuava em reuniões de planejamento e execução de medidas para manutenção das manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.
"Os diálogos encontrados no celular de MAURO CID demonstram que CORREA NETO intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado”, diz o relatório de investigações da PF.
Neste mesmo dia, o coronel enviou ao então ajudante de ordens de Bolsonaro uma minuta intitulada "CARTA AO COMANDANTE DO EXÉRCITO DE OFICIAIS SUPERIORES DA ATIVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO", que seria um instrumento de pressão ao então comandante do Exército, general Freire Gomes.
Logo após a reunião, os nomes dos comandantes regionais do Exército que ainda estariam indecisos em aderir ao plano golpista foram divulgados em um programa de rádio. Ao analisar os diálogos trocados por Mauro Cid, a PF diz que Correa Neto sabia horas antes o nome exato dos comandantes que seriam expostos na mídia, o que demonstraria uma ação coordenada dos investigados em expor e pressionar os militares que não topassem aderir ao rompimento.
Outras condutas imputadas ao coronel incluem medidas direcionadas à disseminação de notícias falsas por integrantes das Forças Armadas desacreditar o processo eleitoral; incitação para adoção de medidas radicais; realização de reuniões para angariar suporte às medidas necessárias para impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário.
Além de Correa Neto, outras três pessoas foram presas na semana passada: Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, coronel da reserva do Exército e assessor do ex-presidente, e Rafael Martins, major do Exército.
O major, segundo mensagens trocadas com Mauro Cid, teria solicitado R$ 100 mil para ajudar na locomoção e estadia de manifestantes que viajaram a Brasília para os protestos contra o resultado eleitoral.