Correção: o coronel Romão Correa Neto foi alvo de mandado de prisão na operação, e não preso como publicado entre 17h06min de quinta-feira (8) e 7h53min de sexta (9). O texto abaixo foi corrigido.
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8), traz reproduções de diálogos obtidos pela investigação. São conversas por aplicativos de mensagem, usadas como provas de que era tramado um golpe de Estado no Brasil, para evitar a confirmação do resultado das eleições de 2022, em que o então presidente, Jair Bolsonaro (PL), foi derrotado.
A maior parte das trocas de mensagens envolve o tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens da Presidência. A delação premiada de Cid embasou o inquérito.
A investigação da PF apontou que o grupo pretendia criar uma narrativa de falhas nas urnas eletrônicas para cooptar a cúpula das Forças Armadas, prender autoridades e tornar inválido o resultado do pleito de 2022.
Uma minuta de decreto apresentada a Bolsonaro previa a prisão do próprio Alexandre de Moraes, que era constantemente monitorado, para que a ordem fosse cumprida, caso o golpe fosse levado a cabo.
Diálogos obtidos pela PF e constantes do despacho de Moraes que autorizou a operação mostram que o coronel da reserva do Exército Marcelo Costa Câmara atualizava Mauro Cid sobre a localização do ministro do STF, que então presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas mensagens, de acordo coma investigação, eles usavam uma espécie de código, se referindo a Moraes como "a professora".
Ainda com base no inquérito da PF, citado pela decisão de Alexandre de Moraes, Costa Câmara atuou como assessor especial da Presidência da República e era bastante próximo a Bolsonaro. Ele seria responsável por uma espécie de serviço de inteligência extraoficial que coletava informações consideradas sensíveis para o então presidente.
"Desde que o PR assine"
Diálogos entre Cid e o coronel Romão Correa Neto, alvo de mandado de prisão na operação desta quinta, demonstram, segundo a PF, articulação para reuniões com militares em que o plano golpista seria debatido.
O coronel, que, de acordo com a investigação, fazia as vezes de assessor de Cid, convocou membros das Forças Especiais, os chamados "kids pretos", para os encontros. Em uma das conversas, o coronel questiona Cid sobre os resultados dos encontros.
O ajudante de ordens responde: "Mas ele quer fazer... Desde que o Pr assine". De acordo com o despacho de Moraes, Cid está se referindo ao general Estevam Teophilo Gaspar de Oliveira, que era chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, que apenas aceitaria participar se Bolsonaro assinasse o decreto do golpe que eles estavam elaborando.
Romão Correa Neto questiona Cid sobre a posição de "GFG", que seria o general Freire Gomes, então comandante do Exército. Ao que o tenente-coronel responde: "Difícil ainda".
A indisposição de Freire Gomes para se envolver no golpe irritava os envolvidos no plano. O general Walter Braga Netto, que foi ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro, em outra troca de mensagens obtida pela investigação, chega a afirmar: "A culpa do que está acontecendo e acontecerá e do Gen Freire Gomes". E depois acrescenta: "Cagão".
"Senão estou preso"
A investigação que levou à operação desta quinta obteve diversas conversas entre Mauro Cid e o coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros. Nas trocas de mensagens, eles discutem possíveis teorias sobre fraude nas urnas, que embasariam o golpe.
Segundo a PF, Cavaliere, que foi alvo de medida cautelar nesta quinta, sendo impedido de deixar o Brasil e afastado do exercício de função pública, integrava o chamado "núcleo de desinformação e ataques ao Sistema Eleitoral" do esquema.
Este grupo, diz a Procuradoria-Geral da República, citada no despacho de Moraes, "teria atuado, prioritariamente, na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas e de 'estudos' quanto à falta de lisura das eleições presidenciais de 2022, bem como sobre supostos registros de votos após o horário oficial, inconsistências no código-fonte, com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e de instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para a execução de um golpe de Estado".
Em uma troca de mensagens, o coronel Cavaliere de Medeiros diz a Cid: "Espero, sinceramente, que vocês saibam o que estão fazendo". Ao que o então ajudante de ordens da Presidência responde: "Eu tb (também)". E acrescenta: "Senão estou preso".
Cid foi realmente preso em 2023, mas por envolvimento em suposto esquema de adulteração de cartões de vacinação. A colaboração dele com a PF, após a detenção, embasou a operação desta quinta.