Conversas de WhatsApp extraídas do telefone celular de Ailton Barros, militar reformado do Exército, apontam a suposta participação do general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, em um intento golpista que teria o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O alvo principal da possível ação de Braga Netto seria o então comandante do Exército, general Freire Gomes, chamado de "cagão" por resistir às pressões para aderir ao golpismo.
Uma coletânea de conversas de Braga Netto com outros militares foram reproduzidas na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou nova operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8) para investigar suposta articulação antidemocrática do bolsonarismo.
Braga Netto teria encaminhado a Ailton Barros mensagem recebida de um militar das Forças Especiais (FE) em que a "culpa" do que estava acontecendo, em referência a um fracasso do possível golpismo, era atribuída a Freire Gomes, acusado de "omissão e indecisão". Ailton Barros, na resposta, sugere manter a pressão e, caso o general Freire Gomes continuasse reticente, afirmou: "Vamos oferecer a cabeça dele aos leões".
Braga Netto, destaca o despacho de Moraes, teria concordado e acrescentado: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
A investigação da Polícia Federal coletou indícios de que Braga Netto atuou no suposto intuito de atacar e pressionar outros militares reticentes à trama antidemocrática. Em 15 de dezembro de 2022, Braga Netto enviou mensagem para Ailton Barros orientando ataques ao tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, então comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), "a quem adjetivou de traidor da pátria". O ex-candidato a vice-presidente ainda pediu que fossem feitos elogios ao então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. Conforme o delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Garnier, em reunião com o ex-presidente, "anuiu com o golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição".
Nas reproduções de imagens de aplicativo de celular, Braga Netto supostamente redige, em meados de dezembro de 2022, duas semanas antes da posse de Lula: "Senta o pau no Batista Junior (sic). Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. (...) Inferniza a vida dele e da família. Elogia o Garnier e fode o BJ (Baptista Junior)".
Tanto Braga Netto quanto Ailton Barros foram alvos da Polícia Federal na manhã desta quinta-feira, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Foram impostas a eles outras medidas, como as proibições de manter contato com os demais investigados e de se ausentar do país. Ailton Barros já havia sido preso em maio de 2023 por suposta participação na intermediação da inserção de dados falsos em cartões de vacinação da covid, o que teria favorecido o ex-presidente Bolsonaro. Ele recebeu liberdade provisória em setembro de 2023.