Embora seja contrário ao uso de delação premiada, o advogado do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, disse que concordou com a assinatura do acordo porque a situação do cliente era crítica. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (19), Cezar Bitencourt negou que seu cliente tenha omitido informações da Polícia Federal (PF) ao não citar a gravação de uma reunião antes das eleições de 2022 entre o ex-presidente, ministros e chefes das Forças Armadas.
Contratado pela família de Mauro Cid quando ele ainda estava preso, o advogado disse que analisou o cenário e viu que a colaboração com a PF poderia ser o melhor caminho para o seu cliente. Embora já tenha defendido teses contrárias a acordos de delação, Bitencourt argumentou que não teria direito de "prejudicar" o cliente por seu entendimento como doutrinador.
— Tecnicamente, eu sou contra delação premiada. Mas, neste caso, eu não sou o doutrinador, eu sou o advogado. Procuro ser o melhor advogado para o meu cliente e analisei as teses legais melhores para ele. Então cheguei e disse 'ó, a situação está preta, a polícia quer a delação. O senhor está de acordo?' — relatou o advogado.
Questionado sobre o contexto no qual avaliou que a situação era crítica, Bitencourt desconversou. Ele também não esclareceu se há novos elementos da delação que ainda não vieram à tona.
O fato de o ex-ajudante de ordens não ter revelado à polícia a gravação da reunião em que, segundo as investigações, há indícios de um planejamento de golpe de Estado, foi considerado pelo advogado uma consequência natural sobre a dificuldade de lembrar detalhes de um período longo. Ele alegou que o cliente respondeu às perguntas que foram feitas, e que em eventual novo depoimento poderá esclarecer outros pontos.
Na linha do que já havia afirmado em outras ocasiões, Bitencourt disse que Mauro Cid apenas cumpria ordens de Bolsonaro.
— Achei maravilhoso o vídeo (da reunião) porque o Brasil inteiro ficou sabendo o que aconteceu e o modus operandi do presidente — acrescentou.
A gravação é uma das peças que embasaram a operação da PF realizada no último dia 8, que teve como alvos militares e ex-ministros suspeitos de planejarem uma tentativa de golpe. Ela foi encontrada em um computador de Mauro Cid.
O advogado garantiu que até ler a publicação na imprensa não tinha conhecimento sobre o vídeo, e considera que o seu cliente não é obrigado a entregar provas sobre as acusações que fez nos depoimentos.