A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro comunicou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF), nesta segunda-feira (19), que ele só prestará depoimento após ter acesso aos elementos de prova, como o conteúdo de celulares apreendidos nas investigações. Bolsonaro foi convocado a depor na quinta-feira (22) sobre um suposto plano de golpe de Estado, em que ele teria analisado e alterado uma minuta de decreto presidencial.
A defesa afirma que decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que autorizou a última operação policial "contém excertos de supostas conversas presentes nos celulares apreendidos ao longo de todo este procedimento investigatório, mídias as quais a Defesa não teve acesso até hoje".
O acesso completo ao material, reforçou a defesa, é crucial para que o ex-presidente se manifeste. "Em decorrência da falta de acesso a todos os elementos de prova, o Peticionário opta, por enquanto, pelo uso do silêncio, não abdicando de prestar as devidas declarações assim que tiver conhecimento integral dos elementos", diz o documento assinado pelo advogado Paulo Amador da Cunha Bueno.
Na petição, o advogado também pede o compartilhamento de todas as mídias obtidas nos aparelhos apreendidos, bem como o conteúdo completo da colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.
Conforme já mostrado pela coluna, a postura de Bolsonaro nos depoimentos mudou após Mauro Cid iniciar tratativas para uma delação.
Nas primeiras vezes em que foi convocado a depor depois de deixar a Presidência, Bolsonaro falou sobre as suspeitas de fraude em cartão de vacina, o planejamento dos protestos do 8 de Janeiro e sobre as acusações do senador Marcos do Val envolvendo golpe de Estado.
A partir do final de agosto de 2023, quando o tenente-coronel indicava que poderia fechar a colaboração, o ex-presidente se recusou a responder aos questionamentos em duas ocasiões. Primeiro quando foi chamado a falar sobre as suspeitas de venda ilegal de joias do acervo da presidência, depois acerca de mensagens em tom golpista trocadas com um empresário.
Pela relação estreita de confiança que manteve com o ex-presidente, Mauro Cid teve acesso a muitos detalhes sobre a trama golpista investigada agora. Por isso, além do pedido de acesso a provas, a estratégia de ficar em silêncio serve para evitar contradições ou qualquer outra maneira de incriminá-lo.