A grande novidade das primeiras entrevistas do presidente eleito Jair Bolsonaro foi o anúncio de que deseja ter o juiz Sergio Moro como ministro da Justiça. Moro é candidato natural à primeira vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal (STF), mas isso só ocorrerá, com certeza, daqui a dois anos, com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello, ou em três anos, quando Marco Aurélio Mello também completa 75 anos. É até possível que um ou outro se aposente antes, mas por opção.
Ao Jornal Nacional, Bolsonaro disse que Moro “é um símbolo do Brasil, um homem que perdeu a sua liberdade no combate à corrupção e não pode sequer ir à padaria sem aparato de segurança”.
Moro tem o apreço de milhões de brasileiros, pelo trabalho na Lava-Jato, e sua indicação para o Ministério da Justiça certamente teria o apoio da maioria dos eleitores de Bolsonaro. O problema é que significaria abrir mão de sua carreira de magistrado por uma indicação política, decisão complicada para o juiz que condenou o ex-presidente Lula, que liderava as pesquisas, e, assim, facilitou a vitória de Bolsonaro.
Também no JN, Bolsonaro definiu como “um desabafo” a afirmação feita durante manifestação na Avenida Paulista de que “os marginais vermelhos serão banidos da nossa Pátria”. Disse que se referia à cúpula do PT e ao candidato derrotado PSOL, Guilherme Boulos, que prometeu invadir sua casa na Barra da Tijuca, por ser “área improdutiva”.
— No Brasil de Jair Bolsonaro, quem desrespeitar a lei sentirá o peso da mesma contra a sua pessoa — avisou.
A outra novidade das primeiras manifestações do eleito foi, pela segunda vez, contradizer o seu futuro ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em um assunto particularmente sensível, a reforma da Previdência.
Pela manhã, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, Onyx voltou a dizer que não interessa ao novo governo aprovar a reforma que está no Congresso. Que Bolsonaro apresentará a sua própria proposta depois da posse e será uma reforma profunda, que sirva para os próximos 30, 40 anos. Adiantou que o governo do qual será articulador político vai separar de vez Previdência de assistência social, mas não quis dar detalhes sobre idade mínima, tempo de contribuição e processo de transição para os atuais contribuintes. Citou apenas o modelo chileno como exemplo, referindo-se ao sistema de capitalização.
Em outra entrevista, já havia dito que o brasileiro precisa aprender a fazer poupança para a aposentadoria. No sistema de capitalização, o trabalhador recebe na inatividade o que acumulou ao longo da vida.
No início da noite, em entrevista à TV Record, Bolsonaro disse que pretende conversar com o presidente Michel Temer para garantir a tramitação da reforma da Previdência ainda neste ano. Adiantou que esse é um dos temas que serão discutidos com o atual governo a partir da semana que vem.