Para resumir a campanha presidencial deste primeiro turno, é preciso destacar as palavras que marcaram os embates entre os candidatos, ganharam novos significados ou simplesmente se destacaram na caça ao voto. A coluna selecionou as mais relevantes, aqui alinhados em ordem alfabética:
Nunca numa campanha eleitoral tantos candidatos defenderam o direito de “o cidadão de bem” comprar uma arma para se defender. Jair Bolsonaro fez do gesto de atirar com arma de fogo um dos símbolos de sua campanha. A promessa de abrandar o Estatuto do Desarmamento foi uma das principais bandeiras do concorrente do PSL.
Uma facada desferida contra Bolsonaro por Adelio Bispo de Oliveira no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), manchou de sangue a campanha presidencial. O ato foi condenado por todos os adversários. O candidato passou três semanas hospitalizado e não participou de nenhum debate desde então. O agressor foi preso em flagrante, alegou motivos políticos, foi denunciado e virou réu. A investigação concluiu que ele agiu sozinho e uma perícia particular atestou que ele sofre de transtorno delirante grave.
Desde o primeiro dia, foi um dos assuntos mais presentes na propaganda eleitoral, nos debates e nas entrevistas. A Lava-Jato pautou a campanha e provocou estragos nas candidaturas de Geraldo Alckmin, pelo envolvimento de líderes dos partidos do centrão, e de Fernando Haddad, por todas as acusações que pesam sobre o PT e, em especial, pela prisão do ex-presidente Lula.
Uma declaração do economista Paulo Guedes, em reunião reservada com investidores, de que a equipe de Bolsonaro pretendia criar um imposto nos moldes da CPMF, em substituição a outros tributos, transformou-se em uma das principais polêmicas da campanha. O candidato usou as redes sociais para negar qualquer aumento de imposto e Guedes saiu
Outro princípio de incêndio na campanha de Bolsonaro foi provocado pelo candidato a vice, Hamilton Mourão, que, numa palestra em Uruguaiana, chamou o 13º salário de “jabuticaba brasileira” e disse que é uma mochila que os empresários precisam carregar nas costas. Bolsonaro correu para o Twitter e desautorizou Mourão.
Com a proibição das doações empresariais, as campanhas foram financiadas com recursos próprios, do fundo eleitoral e de doações de pessoas físicas. Na eleição presidencial, a campanha mais cara foi a de Henrique Meirelles, que investiu R$ 45 milhões do próprio bolso. No RS, o campeão foi Eduardo Leite, com R$ 4 milhões, a maior parte do fundo eleitoral.
Tratada como prioridade dos concorrentes, a educação acabou sendo negligenciada nos debates e planos de governo. Faltou clareza nas propostas.
Milhares de mulheres no Brasil e no Exterior foram às ruas no dia 29 de setembro para expressar repúdio à candidatura de Bolsonaro. Acabaram contribuindo para impulsionar o caráter plebiscitário da eleição.
Um dia depois, simpatizantes do concorrente do PSL promoveram passeatas e carreatas de apoio ao deputado. A partir desse dia, Bolsonaro só subiu nas pesquisas.
As notícias falsas se multiplicaram em velocidade impressionante nas redes sociais. Apesar das checagens da mídia tradicional, os boatos continuaram em alta, envolvendo adversários, a Justiça Eleitoral e a votação eletrônica.
Um pedido de autorização da Folha de S.Paulo para entrevistar o ex-presidente Lula abriu uma crise no Supremo Tribunal Federal, envolvendo os ministros Ricardo Lewandowski, que autorizou, e Luiz Fux, que a proibiu. O juiz Sergio Moro levantou o sigilo da delação de Antonio Palocci e foi acusado pelos petistas de tentar influenciar o resultado da eleição.
No início da campanha, o mercado financeiro tinha dois candidatos: Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles. Como nenhum dos dois decolou, optou por Bolsonaro. Quando o capitão ampliou a vantagem sobre Haddad, o dólar caiu e a bolsa subiu.
Descaracterizados por alianças incompreensíveis pelo eleitor e por traições de seus líderes, os partidos saem esfacelados da eleição. O líder das pesquisas é filiado a um nanico, o PSL, que não tem nem o dinheiro nem o tempo de rádio e TV das siglas tradicionais.
É indiscutível que a avalanche de pesquisas encomendadas por veículos de comunicação e por financeiras acabou influenciando os eleitores. Quando se cristalizou a polarização entre Bolsonaro e Haddad, começou a migração em nome do voto útil. Na eleição para governador, liderada por dois candidatos de perfil semelhante, esse fenômeno não se verificou.
Escolhido para substituir o ex-presidente Lula na chapa, Fernando Haddad ganhou, pela segunda vez, o apelido de poste. Em toda a campanha, fez questão de se apresentar como o escolhido de Lula, o que, de um lado, rende votos e, de outro, afasta eleitores.
Antes rainha da campanha, a propaganda de rádio e TV perdeu espaço para as redes sociais. Com maior tempo de TV, Geraldo Alckmin estancou na faixa dos 8%.
Sem espaço suficiente no rádio e na tv, concorrentes a diversos cargos optaram por difundir suas propostas no YouTube ou em vídeos ao vivo no Facebook. Atos de campanha, preparações para os debates e visitas de políticos ao Estado foram transmitidos para os seguidores.
O folclórico Cabo Daciolo chamou atenção no primeiro debate ao questionar Ciro Gomes sobre uma certa Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), que virou a piada da eleição. O cabo, que passou 20 dias “no monte” orando, chega à eleição empatado com nomes conhecidos, como Alvaro Dias e Henrique Meirelles.
De todas as redes sociais, foi a que mais teve impacto na eleição, por ser subterrânea e não permitir o monitoramento, e subverteu a lógica das campanhas anteriores. O compartilhamento frenético de propaganda e de notícias falsas abriu um novo capítulo na história das disputas.