
A equipe da apresentadora Tati Machado, 33 anos, anunciou na terça-feira (13) que ela perdeu o bebê que esperava. O mesmo ocorreu com Micheli Machado, segundo comunicado divulgado nas redes sociais na segunda (12). As duas estavam na reta final da gestação. Especialistas alertam que casos como esses não são comuns e, às vezes, não podem ser evitados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que um natimorto é um bebê nascido sem sinais de vida a partir das 28 semanas de gravidez. Segundo dados de 2020 da organização, dois milhões de bebês nascem mortos todos os anos no mundo, sendo a maioria dos casos (84%) em países de baixa ou média renda. De acordo com estudos, o cenário nacional tem particularidades.
— Aqui no país é em torno de 10 casos para cada mil pacientes gestantes. Nos países mais desenvolvidos é de dois a cinco casos para cada mil gestantes. Então, por sorte, são casos raros, porque realmente é uma perda importante, que gera uma experiência muito dolorosa para a mulher e para a família — complementa Carla Huster, ginecologista e obstetra da Santa Casa de Porto Alegre.
Por que os bebês morrem?
A especialista ressalta, ainda, que, muitas vezes, não é possível identificar um motivo para a perda gestacional. Algumas das causas mais frequentes incluem alterações maternas, como pressão alta — que pode causar pré-eclâmpsia e síndrome de HELLP, quadro da cantora Lexa —, diabetes durante a gestação, algumas infecções gestacionais, como sífilis, toxoplasmose, trombofilias, alterações placentárias e doenças autoimunes.
Carla pontua, ainda, a possibilidade de ocorrer enovelamento, compressão ou nó verdadeiro de cordão umbilical. Isso pode reduzir o fluxo de oxigênio e nutrientes para o bebê.
— Entre as causas fetais, destacamos malformações, síndromes e infecções congênitas, distúrbios no crescimento fetal e da perfusão placentária (processo pelo qual o sangue da mãe irriga a placenta, permitindo a nutrição do bebê) — acrescenta Edson Vieira da Cunha Filho, chefe de serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento.
O médico pontua que, para identificar a origem da perda fetal, a mãe pode fazer uma investigação de trombofilias, de pré-eclâmpsia, dosagem da glicose e de infecções. Já entre os principais exames fetais, é sugerido realizar a investigação genética, necropsia e pesquisa de infecções.
— É fundamental fazer, também, uma análise anatomopatológica da placenta e do cordão umbilical na pesquisa de áreas de hemorragias, trombos, infartos, entre outras alterações — defende o especialista.
Fatores de risco
Mulheres com gestação de alto risco tem uma maior incidência de óbito fetal. O risco pode ser oriundo de alguma condição patológica como hipertensão e diabetes ou, em pessoas saudáveis, alguns fatores como a idade materna. Ter mais de 35 ou 40 anos no momento da gravidez pode ser um fator de risco.
Às vezes, a morte fetal não é evitável.
CARLA HUSTER
Ginecologista e obstetra da Santa Casa de Porto Alegre
Além disso, mulheres que já enfrentaram perdas gestacionais anteriormente, como a Tati Machado, podem estar mais suscetíveis, dependendo da condição.
Como evitar?
Para os especialistas, é essencial que as mães estabilizem as doenças conhecidas antes da gravidez — com controle da pressão, no caso das hipertensas, e controle da glicose, no caso das diabéticas —, mantenham hábitos saudáveis e realizem o pré-natal adequadamente, principalmente se houver fatores de risco.
— Às vezes, a morte fetal não é evitável. Mas orientamos as pacientes para que elas estejam atentas a alguns sinais de que devam levá-las a um atendimento de urgência — reforça Carla.
São eles: sangramento vaginal, dor abdominal, contrações fora do momento adequado e a movimentação fetal. A médica ressalta que a movimentação do bebê é o que mais indica que a gravidez está saudável. Quando os movimentos começam a diminuir pode significar que algo não está indo bem.
Retirada do bebê
Micheli Machado foi internada e passou por uma cesariana de emergência, enquanto Tati Machado precisou passar pelo trabalho de parto para retirar o bebê. A especialista da Santa Casa explica que é possível optar pela cesárea ou pelo parto normal nesses casos, a depender de alguns critérios:
— A cesariana precisa ser feita numa morte intrauterino se a mãe estiver correndo risco de vida. Senão, a paciente pode fazer uma indução de parto para o parto vaginal. Porém, existe toda essa questão emocional. Na cesariana, o sofrimento parece ser abreviado. Em relação ao parto, vai levar algumas horas a mais. O melhor, pensando no futuro reprodutivo da paciente, o melhor seria o parto normal.