
Depois de ver uma portaria da Receita Federal sobre o Pix ser motivo da pior crise de imagem deste terceiro mandato, agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está diante de um problema que pode se tornar ainda maior. A fraude do INSS, apesar de ter sido revelada por órgãos de controle do próprio governo, demorou a ser descoberta e tem sido explorada com sucesso pela oposição. Na crise do Pix, a polêmica estava cercada de notícias falsas e ninguém sentiu efeito no bolso. Agora, milhares podem ter sido lesados, e a solução é demorada.
Os governos apostam frequentemente no esquecimento da população como estratégia para enfrentar seus problemas. Na maioria das vezes, dá certo. Com a montanha diária de informações, logo um assunto é substituído por outro na imprensa e nas rodas de conversas.
No caso do INSS, o principal temor do governo é a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que já possui as assinaturas necessárias e cuja abertura está nas mãos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Com duração mínima de 180 dias, a comissão certamente conseguiria monopolizar os holofotes por bastante tempo, sem falar no potencial de revelar detalhes da fraude que atinjam o governo.
É claro que a CPMI também poderia ser utilizada por governistas, mostrando que a fraude começou durante o governo de Jair Bolsonaro e nada foi descoberto no período. Até agora, porém, a oposição venceu de lavada a guerra de narrativas. E a fragilidade da base do governo no Congresso não indica eventual maioria na comissão.
Além de tudo, há o desgaste da burocracia. Nesta quarta-feira (14), teve início o prazo para que os beneficiários informem se autorizaram ou não os descontos feitos por associações nos contracheques. O sistema não suportou todo o acesso e há inúmeras queixas sobre a dificuldade de acesso às informações.
Depois desta etapa, que exigirá contato com milhares de aposentados e pensionistas, a devolução do dinheiro ainda dependerá da comprovação de quem teve ou não o débito autorizado. Embora não tenha sido confirmado pelo governo, é evidente que o ressarcimento será feito com dinheiro público, enquanto os órgãos de controle tentam recuperar o prejuízo. Esta também é uma decisão política, que busca agilizar o reembolso.
Mas, diante dos abusos que cercam a relação dos beneficiários do INSS com entidades associativas, bancos e outros intermediários, quem garante que muitos aposentados e pensionistas não vão colocar na conta do governo a culpa por descontos de empréstimos consignados ou parcelamentos de compras? A bagunça está formada e o governo terá muito trabalho para contorná-la.