O repúdio à candidatura à Presidência da República de Jair Bolsonaro (PSL) levou uma multidão ao Parque Farroupilha na tarde deste sábado (29), em Porto Alegre. Batizado de #EleNão, o movimento foi liderado por mulheres, mas também reuniu homens e crianças expressando o protesto contra Bolsonaro em camisetas, faixas, cartazes e bandeiras. A manifestação se repetiu em outras capitais pelo país e cidades pelo mundo.
A Brigada Militar (BM) evitou projetar o número de participantes. O público se concentrou nas proximidades do Monumento ao Expedicionário, mas avançou para a área de jardins e gramados da Redenção, para parte da Avenida José Bonifácio e para o acesso à Rua Santana. O trânsito no local ficou congestionado. Organizadores estimaram a presença de 25 mil pessoas.
O sol forte e a temperatura de 31ºC fizeram a alegria de ambulantes com carrinhos e bancas de água mineral, refrigerante, cerveja, picolé, sorvete e abacaxi no palito. Apareceu até vendedor de guarda-chuva e faixas para testa com a frase #EleNão, ao custo de R$ 5.
Um carro de som comandou o evento chamado de ato político cultural. Simpatizantes de movimentos feministas, LGBT, negros e estudantes se revezaram em discursos, exaltando as minorias, a democracia e as mulheres. A vida e morte da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março no Rio de Janeiro, foi lembrada. As apresentações eram intercaladas por números musicais. Um dos momentos de maior euforia foi a apresentação do cantor Nei Lisboa.
Nos microfones, a frase mais pronunciada era "ele não", acompanhada pelo público com batidas de tambor e em latas. Representantes de partidos de esquerda pegaram carona no movimento e também se manifestaram. Assim que o evento começou, a professora Maria Alice, que não quis revelar o sobrenome, posicionou-se em frente ao carro de som com um cartaz onde se lia "Primavera das mulheres na resistência".
— Quero um país melhor para nós — disse Maria Alice.
Ao lado dela, a ativista de direitos humanos Tatiana Xavier carregava outro cartaz contendo frases como "um dia eu acordei e lutei contra um opressor".
— Eu não quero alguém que prestigia torturador, que é a favor da violência contra a mulher e de rebaixar os nossos salários — afirmou Tatiana.
Grávida de seis meses, esperando o primeiro filho, que vai se chamar Joaquim, a estudante de pós-graduação Thais da Rosa Alves, 27 anos, preferiu se manifestar escrevendo a frase "ele não" sobre a barriga.
— A gente tem de se indignar com o retrocesso que o país pode sofrer. Estou aqui por mim, pelas mulheres e pelo meu filho — pontuou a futura mãe.
Com uma faixa de protesto na cabeça, o bancário Fernando de Freitas Nunes, 35 anos, fez questão de acompanhar a mulher até a Redenção.
Passeata
Por volta das 18h, os participantes do ato saíram em caminhada pelas ruas da região central da Capital. A multidão começou a caminhada ocupando a Avenida João Pessoa, no sentido bairro-centro. Ao longo do percurso, que passou por ruas do bairro Cidade Baixa, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra o candidato do PSL.
— Eu já falei, vou repetir. Nessa eleição, o Bolsonaro vai cair — diziam.
Bandeiras de partidos, de coletivos, de movimentos sociais e cartazes com as frases “ele não”, que virou um dos carros-chefes do movimento, ilustravam a passeata. Alguns motoristas buzinavam em apoio à massa. Moradores de prédios da região também gritavam e acenavam para a mobilização, que contava com um carro de som, que puxava e coordenava o ato, e uma banda de percussão.
A passeata terminou no Largo Zumbi dos Palmares, onde organizadores discursaram no carro de som. O ato foi encerrado por volta das 19h30min.
No domingo (30), será a vez de apoiadores de Bolsonaro realizarem atos espalhados pelo país. Na Capital, a mobilização está marcada para o Parque Moinhos de Vento, o Parcão.