O sentido dos dois turnos, que é dar ao eleitor a oportunidade de, no primeiro, votar no candidato que mais se afina, está sendo subvertido nesta eleição. Pela velocidade com que os concorrentes de centro estão se desidratando, não será surpresa se o primeiro turno virar um plebiscito entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Ou entre o antipetismo e o PT.
A pesquisa do Ibope divulgada nesta segunda-feira (24) à noite reforça a polarização entre os dois: Bolsonaro manteve os 28% que tinha na pesquisa anterior e Haddad subiu de 19% para 22%. Todos ficaram estacionados no patamar anterior ou oscilaram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Bolsonaro segue como o mais rejeitado (46%), seguido de Haddad (30%).
A principal novidade da pesquisa está nas simulações de segundo turno, que mostram Bolsonaro em desvantagem no confronto com Haddad (43% a 37%), Ciro Gomes (46% a 35%) e Geraldo Alckmin (41% a 36%). Só com Marina a simulação de segundo turno mostra empate (39% a 39%).
Para explicar os resultados do Ibope é preciso levar em conta que Bolsonaro está praticamente fora da campanha, recuperando-se da facada que sofreu no dia 6 de setembro, enquanto Haddad percorre o país se apresentando como o sucessor do ex-presidente Lula. Convém lembrar que, mesmo preso, Lula aparecia em primeiro lugar em todas as pesquisas até ter o registro negado pela Justiça Eleitoral.
Impedido de fazer campanha física, o candidato do PSL usa as redes sociais com mensagens a partir do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, mas ali prega para convertidos. A estagnação coincide com o momento de divergência com seu guru na área econômica, Paulo Guedes, depois da polêmica sobre a criação de uma espécie de CPMF, negada pelo candidato.
No território virtual, Bolsonaro vem sendo alvo de uma forte campanha de mulheres, que criaram a hashtag #EleNão e mobilizaram artistas conhecidas contra sua candidatura. A cantora Anitta, que resistia em aderir, foi pressionada nas redes sociais, acabou postando um vídeo no Instagram, no domingo, dizendo que não vota nele. Até o início da noite de ontem, o vídeo tinha 684 mil curtidas.
Aliás
Entre os percalços que podem explicar a estagnação de Bolsonaro no Ibope, estão as declarações do seu vice, general Hamilton Mourão, ofensivas às mães e avós que são chefes de família.
Aliança de conveniência
Por convicção, pragmatismo ou oportunismo político, candidatos a governador, deputado e senador estão abandonando seus companheiros, às claras ou nas sombras, para apoiar Bolsonaro. O tucano João Doria, em São Paulo, é só um exemplo.
No Rio Grande do Sul, o PP está oficialmente na aliança de Geraldo Alckmin (PSDB), mas, na prática, a maioria dos seus candidatos trabalha por Bolsonaro.
O MDB vai pelo mesmo caminho. Candidatos à reeleição abandonaram Henrique Meirelles, pensando nos lucroos da aproximação com o líder nas pesquisas.
Germano Rigotto, vice de Henrique Meirelles, está chocado com a disposição de empresários e de líderes do MDB de dar um cheque em branco a Bolsonaro com o argumento de que só ele pode impedir a volta do PT ao poder.