Cientistas políticos afirmam que o cenário de restrições ao tempo de campanha, às doações e à propaganda dificultam cativar a população. O principal obstáculo é o desencanto após as investigações da Lava-Jato. Defender publicamente um candidato que, no futuro, pode se mostrar corrupto se tornou uma aposta alta demais.
– A pessoa vai para a rua quando defende uma questão e o candidato traduz esse sentimento. No momento, só a extrema-direita articula anseios. As pessoas se decepcionaram após irem às ruas com exigências e os resultados não serem os esperados. Muita gente votará na urna e ficará bem contente por ser um lugar fechado. Não há coragem em exibir apoio publicamente – afirma Emil Albert Sobottka, professor de Ciências Sociais da PUCRS, em referência a Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência que sofreu atentado na última quinta-feira.
Carlos Melo, professor de Estratégia e Política do Insper, em São Paulo, acrescenta que as militâncias que mais levavam a população à rua (PT, MDB e PSDB) são justamente aquelas com maior quantidade de acusações de corrupção.
– Antes, a população que não trabalhava com política saía do trabalho e ia para passeata. Hoje, não. Será uma eleição de votar contra, não a favor: o eleitor vai votar em A por detestar B, não por adorar A. Só que você veste a camisa por quem tem adesão e simpatia, não por ser contra alguém – diz Melo.
O professor do Insper também vê prejuízo na menor presença dos candidatos no Interior: o resultado é um distanciamento entre eleitor e eleito.
– Antigamente, via-se o político uma vez a cada quatro anos. Agora, nem isso. O contato para cobranças e para entender as reivindicações da região desaparece. O resultado é não conhecer tão bem os problemas – afirma Melo.


